13 junho 2012

The Narrow Margin (Richard Fleischer, 1952)



A edição em dvd de The Narrow Margin (1952) de Richard Fleischer mostra o quanto, mercê dos turcos da Cahiers du Cinéma, o estatuto do film noir se alterou desde a feitura dos filmes. De séries-b feitas com o minimo de meios possíveis para mostrar em double-bills que potenciassem um espectáculo barato e que durasse um serão inteiro aos espectadores, saem hoje edições dvd cuidadas, com comentários audio e com transcrições de imagem e som imaculadas, dignas de coleccionistas criteriosos. O filme, diga-se desde já, merece amplamente esse estatuto, ao ser exemplificativo de muitas das melhores técnicas e tendências do noir série-b. História de um detective que tem de levar a viúva de um mafioso de comboio de Chicago a Los Angeles para testemunhar em tribunal enquanto a protege dos antigos comparsas do marido, prontos a matá-la, é também um belo exemplo do thriller de comboio, que aproveita toda a claustrófobia e a exiguidade espacial de um comboio, bem como a inevitabilidade do fim da viagem para potenciar a tensão no espectador. Claro, curto e consiso (72 minutos de duração), como os melhores exemplos do género, é um filme sempre em movimento, deslocando-se constantemente entre as diferentes partes do comboio e que aposta num interessante jogo com o exterior, não só continuando durante as paragens da viagem o mesmo jogo de gato e de rato que tem lugar dentro do comboio, como também interagindo com o que é visto pela janela. Metodicamente realista, é um filme sem música, que utiliza os sons e o constante jogo de luz e sombra para dar a sensação de movimento do comboio que poderia faltar aos cenários de estúdio. No geral, é um belíssimo filme, emocionante até ao fim e que aproveita da melhor forma as vantagens de uma equipa rotinada e de actores habituados a estas personagens-tipo, pouco trabalhadas mas credíveis (destaque para Charles McGraw, actor em Spartacus e The Birds, entre outros) para nos dar uma obra ultra-eficiente e que não perde nunca de vista a criação de uma tensão quase palpável no espectador.   

1 comentário:

Ricardo disse...

Adoro este filme. É um exemplo que se pode encontrar grande cinema sem haver estrelas por perto.