31 agosto 2009

Take - Agosto/Setembro 2009


Está já disponível o número 18 da revista Take. Da minha parte, críticas a meia-dúzia de filmes (Elegy, Transsiberian, Up, The Life Before My Eyes, Home e Sinédoque, Nova Iorque), antecipações de Antichrist de Lars von Trier e The Girlfriend Experience de Steven Soderberg e um olhar transversal sobre a carreira de Agnès Varda (a meias com a Helena). O tema de capa é a carreira de Johnny Depp e há curiosas entrevistas com ex-membros do elenco da mítica série Allo, Allo! Passem por lá, se faz favor.

Nazi Spaghetti


A primeira e mais óbvia constatação a fazer acerca de Inglorious Basterds é o facto de já nada do que é feito por Quentin Tarantino constituir surpresa. A saber,

i) a capacidade estranhamente atractiva de transformar qualquer temática num western spaghetti – tanto mais atractiva, neste caso, quanto o referido sub-género surge, culturalmente, 20 anos após os acontecimentos narrados, num delicioso anacronismo;
ii) o enquadramento maníaco, a um tempo clássico no rigor geométrico e cromaticamente expressivo, quase ao nível da pop-art (herança clara do cinema exploitation);
iii) a qualidade dos diálogos, profundamente literários mas sempre com dose de coloquialidade suficiente para parecerem verosímeis (no que a historicamente comprovada "politesse" dos nazis é ferramenta preciosa);
iv) e as citações cinéfilas (cartazes de Pabst e Clouzot; citação óbvia de The Searchers na fuga de Shosanna, plano de chegada dos nazis à maneira de Leone na primeira sequência, "foreground" estático do lençol com movimento dos nazis no "background");

já tudo foi feito por diversas ocasiões pelo próprio Tarantino.

O que torna Inglorious Basterds tão aliciante é a forma como encontra soluções para as armadilhas que se poderiam erguer. A primeira, a histórica: o final do filme coloca-o, genialmente, o mais longe possível das produções de luxo dos anos 60 e 70 com actores na pré-reforma, e próximo, ao invés, do cinema "trash" que, com maior talento e com mais meios, Tarantino mais reivindica. A segunda, a moral: longe do sentimentalismo, do aviso ao futuro, de mais uma demonstração da shoah em forma fílmica ou do politicamente correcto que a senilidade de Jonathan Rosembaum parece querer ver, Inglorious Basterds é mais um filme de vingança, usando a irrisão e décadas de cinema para contra-atacar uma ideologia asquerosa, com a certeza de que quem nos atira uma pedra ou nos acerta ou a leva de volta. A terceira, a estética: um filme estritamente sobre uma missão dos Basterds perderia cor e riqueza, do mesmo modo que um filme em fragmentos isolados seria, talvez, menos eficaz. A solução foi, então, criar uma narrativa confluente e linear, com cinco capítulos em diversos locais e momentos da mesma história. Dá-se, então, um equilíbrio perfeito entre cor e facilidade na narrativa, ideal para o filme de aventuras apresentado.

Qual, então, o factor que coloca Inglorious Basterds um pouco, um quase nada, abaixo de alguns outros filmes de Quentin Tarantino? Essencialmente, um pequeno problema de gestão temporal: as sequências do jantar de Zoller e Shosanna com Goebbels e a da taberna (ainda assim brilhante) são um pouco longas demais. É certo que é necessário tempo para a tensão se acumular, que cada uma dessas sequências é notoriamente dividida em duas partes e que a da taberna tem uma construcção, de novo, à Sérgio Leone, onde a violência é preparada com calma, eclodindo de maneira ejaculatória e acabando em segundos. Mas cinco ou dez minutos a menos em cada sequência teria tornado o filme um pouco mais escorreito e arredondado a sua duração, o que o teria melhorado ainda mais.

Preciosismos, no fundo, que desaparecerão à quinta ou à sexta visão – ainda só vou na segunda. Inglorious Basterds é um dos melhores filmes do ano, corolário de um Agosto fortíssimo e pedaço de cinema puro, cerebral e virulento. É, até ao momento, o filme mais maduro de Tarantino (mesmo que provavelmente não seja o filme por que será lembrado), mercê dos diálogos literários e da qualidade da construção narrativa. Fruto da carreira que Tarantino já criou, confirma as expectativas mas não as excede. Mas tomara muitos que contra os seus filmes só se pudesse apontar pseudo-defeitos destes.

Triste Verão


Princípios dos anos 90. O programa em reposição chamava-se Lá em casa tudo bem e é uma das poucas, senão mesmo a única boa sitcom alguma vez feita em Portugal. A filha da personagem interpretada por Raúl Solnado traz pela primeira vez o namorado, interpretado por António Feio, a casa. Quando a conversa está a correr bem, o namorado vira-se para a jovem e diz "Oh **** (não recordo o nome), o teu pai é muita louco". Solnado desata numa diatribe do estilo "Eu a tratá-lo bem e você a insultar-me!", até que lhe asseguram que é um elogio. O episódio decorre com normalidade até que no final, Solnado se vira para a actriz que desempenhava o papel de sua mulher e interroga, com o seu hilariante ar garboso: "Oh Maria, sabias que eu sou... muita louco?" Acho que foi a primeira vez que, conscientemente, me desatei a rir em frente à televisão. Por isso, muito obrigado, caro Raúl.

De regresso


... um dia mais cedo que o previsto.

01 agosto 2009

Férias!


Volto a 1 de Setembro.