30 abril 2010

9º dia de IndieLisboa

Num festival incomparavelmente maior, como Cannes, alguém que seja enviado pela imprensa vê até cinco filmes por dia e, depois das sessões, ainda tem de enviar os textos para os jornais. O Indie funciona de forma diferente; três sessões diárias é o normal e pode haver até perto de duas horas entre o final de uma sessão e o começo da outra. Como tal há muito tempo para pensar. Para pensar em como é difícil ver tantos filmes e manter deles uma ideia coerente e profunda, na fome mundial, no que acontecerá se o Benfica perder o campeonato, na Standard & Poor's, na quantidade de tempo que passou desde que dissemos uma palavra a quem quer que fosse, no que acontecerá se o Benfica perder o campeonato, nos amigos que não ligam ou criticam as nossas escolhas, no subsídio de desemprego que expira dentro de 3 meses sem fazermos puto de ideia do que vamos fazer para pagar as contas, em como nunca moraremos no centro de Lisboa quanto mais em Nova Iorque ou Paris ou até no que acontecerá se o Benfica perder o campeonato.
Tudo isto para dizer que algum cansaço anímico remeteu-me para casa, tendo ido ao festival apenas para comprar um bilhete para a minha mulher para a sessão de amanhã e para tentar encontrar a boina preta que perdi ontem no CinemaCity e que por lá deve ter ficado. Já perdi dez ou 15 boinas e esta é a última que perco.
O raio de sol foi ter recebido a noticia de que já tenho bilhete para o Benfica-Rio Ave.

8º dia de IndieLisboa

The Robber de Benjamin Heisenberg é um filme competente acerca de um maratonista austríaco acabado de sair da prisão que usa o seu talento para assaltar bancos, belíssimo enquanto explora a sua situação base mas menos quando se foca na perseguição ao ladrão do título. 10 to 11 da turca Pelin Esmer é uma bela surpresa, uma metáfora da renovação de gerações através da relação entre um engenheiro electrónico idoso que colecciona tudo e mais alguma coisa e o porteiro que o ajuda a livrar-se dos milhares de jornais, livros e outros itens que colecionou ao longo de décadas, tudo numa Istanbul estranhamente parecida com Lisboa. Delicado e contemplativo, poderia perfeitamente estrear.

29 abril 2010

7º dia de IndieLisboa

Grande dia para o cinema português. Fantasia Lusitana brilhante filme sobre como o Estado Novo usou a neutralidade na Segunda Guerra para se fortalecer, com excelente trabalho de pesquisa e montagem de imagens de arquivo. Guerra Civil de Pedro Caldas a revelação do festival, fantástico filme sobre mãe e filho a negociarem a sua distância dos outros num fim de Verão em 1982. Ainda não está comprado para exibição, mas se não estrear, é uma vergonha.

27 abril 2010

6º dia de IndieLisboa

Não há. A greve dos transportes sitiou-me em Rio de Mouro. É dia de escrever e de arrumar a casa e a cabeça. Amanhã há um dia importante, com a Fantasia Lusitana de João Canijo e o muito antecipado Guerra Civil de Pedro Caldas.

5º dia de IndieLisboa

Mind Shadows de Heddy Honningman fraco, tratamento da doença demasiado derivativo de Ingmar Bergman - espero que os documentários sejam melhores; os MusicBox Club Docs inaugurados com belo filme sobre o "ficcionista"JP Simões, num Cais do Sodré multicultural ao pôr-do-sol; e Napoli Napoli Napoli de Abel Ferrara retrato assustador de uma cidade num documentário de qualidade mas que faz desejar o regresso do realizador a Nova Iorque. Curioso é como também Ferrara se parece sentir fora de casa; só isso explica os constantes planos a mostrá-lo em filmagem, como que a dizer "estou aqui!". É um facto que, apesar da sua omnipresente atracção pelos bas fonds, se não soubéssemos que era dele não o advinhariamos...

25 abril 2010

Sacrifícios feitos em prol do cinema (1)

Estar numa sala ao mesmo tempo que o meu clube se sagra Campeão Europeu de Futsal.

4º dia do IndieLisboa

Um fim de semana difícil, o olho esquerdo inflamado pelo sol de um passeio dominical e parte da atenção no Naval - Braga fez a visão de Mother do coreano Joon-ho Bong passar-me ao lado. Não tendo a concentração necessária para o seguir a 100%, pareceu-me, no entanto, confirmar o virtuosismo que The Host anunciava, mas mais não posso dizer. A rever em sala e a criticar na próxima Take.

P.S. - Limpem os lavabos do Londres, s.f.f.

24 abril 2010

3º dia de IndieLisboa

Vi apenas um filme, por problemas de horário. Bad Lieutenant: Port of Call New Orleans pergunta: ao transformar a tragédia (filme de Ferrara) numa farsa (filme de Herzog), perde-se alguma coisa? Sim, e logo se confirma o adágio aristotélico de que a tragédia é superior à comédia. Ainda assim, bom filme. Fora isso, excelente sessão, sala 1 do S. Jorge cheia (cerca de 600 pessoas), apenas prejudicada por um projeccionista que não soube enquadrar o filme, deixando por várias vezes os microfones à vista.
Agora, bom bom foi chegar ao S.Jorge no preciso momento em que acabava uma sessão do IndieJúnior e ver toda a criançada saindo a correr pelo corredor do cinema. De pequenino se torce o pepino!

2º dia de IndieLisboa

A subir. O documentário italiano La boca del lupo fraco, o cantonês Accident bom mas desbaratado por um final inverosímil, o israelita Lebannon dos filmes mais poderosos e aterradores deste ano. De resto, foi um dia morno, ou não fosse passado no Cinemacity de Alvalade, excelente espaço, é certo, mas pela distância dos outros espaços ou pela manutenção de três salas em exibição comercial, com pouco cheiro a festival.

1º dia de IndieLisboa

Uma confusão de horário de um visionamento, que perdi e cuja ausência me obrigaria a passar várias horas em Lisboa sem nada para fazer fazem-me perder a revisão planeada do magnífico Greenberg, inauguração do Indie 2010. Até porque a direcção do festival garante a presença nos salamaleques institucionais mas reserva-se o direito de "expulsar" os jornalistas da cerimónia de abertura se a sala estiver esgotada assim que o filme começar. Fantasia Lusitana de João Canijo fica para a segunda passagem e o primeiro dia do festival, para mim, não o foi.

20 abril 2010

Do financiamento


Do debate do passado domingo no programa Câmara Clara, acerca do financiamento do cinema português, entre João Salaviza e a deputada Inês de Medeiros, ressaltam várias conclusões:

1) A necessidade de um rápido restabelecimento do FICA, bem como a necessidade de rever as suas regras de financiamento (trazendo os novos operadores de cabo para o grupo dos contribuidores) e de escolha dos projectos (muito bem Jorge Leitão Ramos a lembrar que foi essa gente que deu dinheiro para Second Life).

2) A ideia de cobrar uma taxa aos exibidores em filmes estrangeiros, sobretudo americanos, como contrapartida pela excessiva cota de mercado, que seria depois aplicada na feitura de filmes nacionais e até (digo eu) no estabelecimento de uma rede de cinema onde filmes europeus e nacionais possam ser vistos.

3) Como bem afirmou Leonel Vieira, a absoluta necessidade de uma boa lei do mecenato para o cinema, se possível análoga à brasileira, que tanto tem feito pelo cinema nesse país – tenhamos a título de exemplo, o papel fundamental que o Millenium BCP tem no funcionamento do Teatro Nacional S. Carlos e que o presente vazio legal impossibilita para o cinema.

4) A ideia, finalmente reiterada publicamente sem pedidos de desculpas, de que se quisermos apostar na exportação, será com objectos diferentes e idiossincráticos que penetraremos noutros mercados, dado que ninguém no estrangeiro quer saber de affaires entre Soraia Chaves e Nicolau Breyner.

Por tudo isto, esperemos agora que Inês de Medeiros aproveite o tempo que passa nos aviões entre Lisboa e Paris ou o frete que, vendo-a, parece fazer na Comissão de Ética para redigir um projecto-lei neste sentido. Já agora, chame-lhe PEC Cinematográfico, pode ser que o engenheiro aprecie a ironia.

11 abril 2010

Alegria! Alegria!

Hoje, devido a ter chegado ao cinema King dez minutos antes do início da sessão das 22h de As Ervas Daninhas, fui obrigado a ficar na segunda fila. Exultei em ver a sala 1 cheia como há muito não a via!

Até porque creio que este facto me dá alguma razão: por diversas vezes escrevi que se aquele espaço tivesse filmes interessantes em exclusivo teria a sua viabilidade assegurada. A exibição do novo (e magnífico) filme de Alain Resnais em exclusivo na Avenida de Roma, quase esgotada num sábado à noite, prova que tenho alguma razão.

06 abril 2010

Sumaríssimos (13)


Bem-sucedido renovador do teatro britânico, Sam Mendes tem tido no cinema um percurso pouco coerente, experimentando diferentes géneros, mantendo uma imagem, talvez exagerada, de competência enquanto procura um estilo próprio. De crónicas suburbanas (American Beauty e Revolutionary Road) ao filme de gangsters (Road to Perdition, talvez o seu melhor filme) e ao filme de guerra (Jarhead, o seu pior), o que se pode dizer é o seguinte: Sam Mendes cumpre em quase todos e não atinge a excelência em nenhum. O que é expansível ao seu simpatiquíssimo Away We Go, experiência do inglês no road movie acerca de um casal de freaks white trash que procura uma nova cidade onde criar a criança que vão ter. Com um belíssimo argumento de Dave Eggars e Vendela Vida, é um filme terno, que contrabalança habilmente momentos de alegria e beleza com cenas tristes e emotivas, num equilíbrio bem conseguido. John Krasinski (do Office americano) e Maya Rudolph (do Saturday Night Live) são o cimento que junta as partes e não me parece possível alguém dizer que se perde tempo a ver este filme. Porém, voltamos a uma questão que já abordei anteriormente: hoje em dia, parece fácil fazer um filme independente americano. Junta-se actores conhecidos mas não famosos a uma galeria de secundários competentíssimos (brilhantes Allison Janney, Jim Gaffigan e Maggie Gyllenhaal), filma-se cores abundantes mas esbatidas, coloca-se a acção na América profunda e adicionam-se planos de pontuação ao som de temas indie e temos filme para Sundance. Sam Mendes, hélas, segue a receita com demasiada fidelidade.