31 julho 2010

Aquele querido mês de Agosto

O blogue tem estado parado, muito por falta de tempo e, diga-se, de alguma vontade, para escrever. Num mês de Agosto que, como sempre, se adivinha parado, vou de férias. Volto, se tudo correr bem, no inicio de Setembro, com aquilo que espero serem algumas novidades. Até lá, não se esqueçam da iniciativa para fazer regressar o cinema à RTP2. Todos os interessados em assinar a petição e em receber eventual informação, por favor mandem um email com nome, localização geográfica, profissão e idade para peticaortp2@hotmail.com . Até Setembro e boas férias.


11 julho 2010

Do cinema na RTP2 (II)

Quem for a ler o meu texto anterior pensará que a minha vontade em ter cinema na RTP2 regularmente se prende com saudosismo. Afinal de contas, foi a minha juventude, uma época que, à distância, parece menos complexa do que a actual e uma em que o cinema parecia menos subalterno no panorama cultural do que parece hoje.

Não nego que haja alguma saudade desse tempo, mas tê-la como o motivo principal é confundir a parte pelo todo. Primeiro, porque a possibilidade de cativar novos cinéfilos via uma programação fílmica regular e cuidada mantém-se intacta: não só não há qualquer custo em ver um filme na televisão como um filme que seja anunciado com relativa antecedência poderá inserir no espectador o germe da curiosidade. Depois, para aqueles que dizem que hoje a relação do espectador com o cinema passa muito pela Internet, é um facto, mas começar a conhecer um cineasta na televisão poderá fazer alguém dar corda ao P2P (ou até, pasme-se! comprar dvds, ir mais ao cinema e até à Cinemateca), contribuindo para um maior conhecimento da arte. Por último, e partindo do principio de que o cinema, regressando à RTP2, teria provavelmente de ocupar o mesmo horário que anterior (final da noite/principio da madrugada), existem actualmente métodos tecnológicos, nomeadamente as boxes de gravação das diversas operadoras de cabo, que possibilitam a visão posterior e a eventual revisão dos filmes (e de todo e qualquer programa, na realidade). Assim, se não se deve tentar repetir estritamente o passado, a eventual desculpa de que os tempos mudaram também não cola.

Neste contexto actual, fragmentado, pós-moderno, ambivalente, em que os filmes, de qualidades, épocas, autores e proveniências muito diferentes ocupam o mesmo espaço mediático sem grande critério, a exibição regular de filmes na RTP2, conquanto obedecesse a critérios rígidos, não de qualidade (sempre discutível) mas de “tipologia” (cinema de autor, cinema europeu, tudo o que os espaços mainstream não consigam ou não queiram divulgar), não resolveria todos os problemas mas teria uma clara vantagem: daria alguma ordem ao caos, criando rituais de visionamento, de discernimento estético e de conhecimento e comparação de obras. E houve muito cinéfilo que começou a sê-lo precisamente devido ao fascínio com esses rituais…

Finalmente, haveria a questão da quantidade de público para um tipo de cinema que ultrapassasse aquilo que passa nos outros canais, normalmente na tarde de fim-de-semana. Mas quanto à sua existência já não há grandes dúvidas, pois não?
Relembro a ideia do Luis Mendonça, a que se juntaram o Carlos Natálio, o João Paulo Costa, o João Palhares e o Ricardo, pelo menos para já, de fazer uma petição que apele ao regresso do cinema regularmente à RTP2. Estamos no momento de contar espingardas, de ver quantos apoios temos e de organizar as coisas, para avançarmos em força na reentrée. Quem se quiser juntar a nós pode sempre comentar aqui ou no Cinedrio ou informar-nos através do endereço de email petiçãortp2@hotmail.com. Muito em breve os meus amigos e conhecidos receberão também informações relativas a esta iniciativa. Sugiro que façam o mesmo.

09 julho 2010

Do cinema na RTP2


A programação da RTP 2 sofre, em minha opinião, de um defeito fundamental: a ideia de que o trabalho que faz é positivo. Quem pensa aquela estação está convencido de ser alternativa, de defender elevados padrões de qualidade, de aquilo ser o melhor que se pode fazer, no contexto actual, em termos de programação alternativa. Parte do problema advém também do canal principal: quando a televisão pública quer jogar o mesmo jogo patético que as televisões privadas, instala-se o laxismo no segundo canal, que tem de trabalhar muito menos para conseguir fingir que é alternativa.

O pior acontece precisamente no cinema. Dos tempos da minha juventude em que a rubrica “5 noites 5 filmes” educou muito boa gente para o cinema (muitos dos Hitchcock, Kubrick, Truffaut ou Bergman que tenho em cassete saíram dessa época) e em que na noite de sábado ainda éramos brindados com mais dois filmes, persistem hoje apenas os dois filmes do fim-de-semana, muitas vezes em escolhas de qualidade mas que não disfarçam a escassez de alternativas, cada vez mais empurradas para o cabo ou a Internet.

Serve isto para dizer que o Luís Mendonça do Cinedrio propôs no seu espaço a ideia de uma petição que quebre o torpor generalizado no que concerne à exibição cinematográfica e force a uma mudança de paradigma na televisão estatal portuguesa. Desde logo me juntei à causa, talvez a mais válida que alguma vez surgiu na blogoesfera portuguesa. Deixo aqui o repto para que toda a blogoesfera, cinéfila e não só, se junte a nós, bem como todo e qualquer amante da arte cinematográfica. Se não estiver aqui uma oportunidade histórica, que a façamos andar lá perto. Mesmo que não consigamos, pelo menos que mostremos que ainda há quem não ande a dormir. Pública, sim; em nosso nome não!