27 julho 2008

Expliquem-me...

...por favor, o que é um filme ser bom dentro do género.

Oiço isto desde criança e, infelizmente, com cada vez mais frequência. Percebo a ideia de ser um filme ser um bom swashbuckler, um bom noir, um bom gidai geki ou um bom western. Já a ideia de que um filme é na generalidade fraco mas, dentro do género, até é bom, escapa-me.

Numa altura em que se critica tanto (e com alguma razão) o relativismo moral, gostava que se criticasse este relativismo cinematográfico, a um tempo fruto e gerador de falta de exigência crítica.

5 comentários:

Lourenço Bray disse...

há géneros que deixam certas sensibilidades indiferentes ou pior, reactivas. Acho francamente mais fácil o Almodovar com a sua receita segura continuar a arrancar notas positivas de críticos "com grande exigÊncia crítica", mesmo com o La Mala Education.

Lourenço Bray disse...

E não disse que o filme era na generalidade fraco... acho que merecia 4 estrelinhas.

Miguel Domingues disse...

Começando pelo fim:

é óbvio que não disse, e é óbvio que gostou. Aquele "dentro do género" fez-me alguma confusão e acho que quem goste do "The Dark Knight" não precisa daquele apêndice. Assim, parece-me uma desculpabilização do filme.

Quanto à dificuldade da crítica em gostar de filmes de acção, acho uma generalização. "Miami Vice", o "Die Hard" original ou até, indo muito atrás, o "Stagecoach" de Ford, passando por John Woo ou por Johnny To, são admirados pela crítica sendo filmes/cineastas de acção.

Quanto a Almodovar ter a mesma receita... tem, acrescentando sempre algo, como (grande) autor que é. Agora, quanto a ser "francamente mais fácil o Almodovar com a sua receita segura continuar a arrancar notas positivas de críticos", remeto para alguns dos textos sobre o espanhol - a começar pelas legítimas reticências de João Lopes a "Tudo sobre a Minha Mãe" e "Volver" no Cinema 2000, para se ver que, manifestanmente, não é esse o caso.

Finalmente, não me chateio por os críticos não gostarem de Almodovar. Quem se "picou" por não ter sido reconhecida a magnitude do filme de Nolan fora os fãs do "Dark Knight". Pena que as discussões cinéfilas de outrora - por exemplo, a estimulante "quem é melhor, Chaplin ou Keaton?", tenha sido substituída pela defesa de morcegos morcegos e bábeis de papel.

Cumprimentos

Lourenço Bray disse...

Epá, de facto piquei-me não por não ter sido reconhecido, mas por alguns críticos profissionais terem achado o filme objectivamente mau, o que é diferente e, confesso, compreensível apenas pelos motivos que expus. O tempo pode apagar todos, mas acho que Indiana Jones e a Caveira de Cristal será certamente um candidato mais forte a isso. No entanto, a crítica foi extraordináriamente benevolente com este filme inferior, talvez porque o Indiana Jones ocupa um lugar afectivo e compreensível nesta geração de críticos. Dificilmente serei considerado um "fã" do Dark Knight. Se falarmos do Cloverfield sim, sou um fã.

Quanto aos filmes de acção, não digo que a crítica não os compreenda. Só que os que citou são mais ou menos consensuais (ao contrário do Cloverfield). Bons termos de comparação critica/público/qualidade é obra de Paul Verhoven ou Cronenberg ou Carpenter, no tempo em que saíam. Não me lembro do Robocop ou do Total Recall terem tido boas críticas. Penso que o Jack Burton ou o The Thing passaram completamente ao lado dos críticos. The Fly ou o Scanners também. E foram todos box office hits, considerados block busters chunga, antes disso ter sido transformado em algo cool pelo Tarantino.

Quanto ao Chaplin e ao Keaton, não sou saudosista. Gosto dos dois e ficam os dois para sempre. É mais interessante disutir Ricky Gervais ou Sacha Baron Cohen.

Anónimo disse...

Transcrevendo um texto publicado num certo blog, sobre o excelente filme do Martin Scorsese - Shine a Light, creio que um filme bom dentro do género, é um filme que "acaba por cumprir, mesmo que à risca, os mínimos indispensáveis".