26 abril 2009

IndieLisboa 2009 (I)


Snow de Aida Begic, Cinema Emergente, Sexta-feira 24 de Abril, Cinema City Classic Alvalade, 21h30m

O primeiro aspecto a ter em conta no IndieLisboa 2009 é a inclusão das salas Cinema City Classic de Alvalade no grupo de locais onde os filmes são exibidos. Ainda que na periferia do festival – afastadas do eixo Fórum Lisboa/Londres, sem a pompa do S. Jorge e com duas das quatro salas a continuarem a exibir a sua programação comercial –o espaço é pequeno mas agradável, com boas condições de imagem e som, excelentes cadeiras e um muito apelativo foyer, com os bolos do café a sorrirem para o espectador. Tivesse o complexo uma selecção de filmes análoga à do King e seria o fim da cada vez mais cavernosa e desconfortável sala da Avenida de Roma. Uma bela surpresa.

Não me posso queixar, de maneira nenhuma, do primeiro filme que vi no Indie em 2009. A longa de estreia de Aida Begic é um sóbrio retrato de uma semana na vida na Bósnia Herzegovina em 1997, depois da limpeza étnica conduzida pelos sérvios ao longo da década de 1990. A povoação, maioritariamente composta por mulheres (apenas o mullah e um rapaz sobreviveram à chacina selectiva dos anos anteriores), vive na esperança de conseguir sobreviver vendendo compotas, mas não há quaisquer compradores nas imediações. Até ao dia em que chegam um bósnio que sobreviveu e que faz transporte de móveis da Alemanha para a Bósnia e um sérvio que, acompanhado por um estrangeiro, tenta comprar a terra para aí estabelecer um empreendimento turístico.

Snow é um filme sem golpes de asa (e que não os tenta ter, com a excepção da catarse final do grupo) mas que cativa por ser tão sólido. Linear e iminentemente realista, filmado com câmara de mão e com uma montagem fluida, é um duro retrato da persecução da vida por um grupo de mulheres que, comoventemente, continua a sua vida sem nunca perguntarem o porquê do seu destino, com a naturalidade de quem sempre aquilo fez e de quem continuará, aconteça o que acontecer, no único lugar que conhece, à espera de dias melhores. Nessa medida, a neve do título funciona, então, como metáfora da mudança de estação, dos tempos que tragam a melhoria de condições merecida pela manutenção do dever.

Merecia a estreia nacional – até porque já vimos bem pior. Que o senhor Paulo Branco acorde e dê a mais gente a hipótese de ver um filme que, não sendo uma obra-prima, merece todos os pares de olhos que encontrar. Destaque final para a enorme fotogenia da protagonista Zana Marjanovic.

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