11 junho 2009

Sumaríssimos (4)


O hype começa numa secretária, comercial ou jornalística, e demora o seu tempo até chegar ao consumidor. Peguemos como exemplo nesta suposta (ainda é cedo para dizer) nova vaga no cinema americano, igualmente apelidada de neo-realismo americano ou mumblecore. Apesar de já há alguns meses se ouvir falar de filmes como Wendy and Lucy (Kelly Reichart, 2008) e Ballast (Lance Hammer, 2008), só agora estreia nas salas portuguesas o primeiro filme a poder ser enquadrado nesta onda. E o resultado é iminentemente positivo: a julgar por Shotgun Stories, estreia de Jeff Nichols datada ainda de 2007, poderemos sonhar com uma das fases mais estimulantes no cinema americano recente. Shotgun Stories é uma belíssima anti-saga familiar, com pouco de climático e onde a tragédia tem mais de surdina do que de gritado. História de três irmãos (Sonny, Boy e Kid) cujo pai alcoólico e violento se redimiu, criou nova família e a ela deu tudo o que não havia dado à família inicial e que acabam por se digladiar com os meios-irmãos quando os três protagonistas invadem o funeral do progenitor e lhe cospem no caixão, é um filme tenso. Silencioso, num curioso ritmo que não pode ser definido nem como lento nem como veloz e com personagens lacónicas mas com imensa profundidade, é rarefeito e despojado, sem efeitos outros que o estritamente necessário. O seu maior mérito, contudo, é a capacidade telúrica de situar os seus valores e as suas acções naquele mundo triste, de sol desbotado e casas degradadas, de morte e desolação, trazendo um pequeno contacto com um mundo muito perto do de Raymond Carver. Agora expliquem-nos porque demorou um ano a estrear…

1 comentário:

H. disse...

Ainda não vi este Shotgun Stories mas o que dizes: O seu maior mérito, contudo, é a capacidade telúrica de situar os seus valores e as suas acções naquele mundo triste, de sol desbotado e casas degradadas (...) poderia aplicar-se facilmente a Ballast e Wendy and Lucy que mencionas...