Não me lembro se era 1996 ou 1997. Ao seu sobrinho Miguel, melómano antes de ser cinéfilo, o meu tio Carlos ouviu um dia dizer que queria uma guitarra acústica pelo Natal. Queria aprender a fazer música, quem sabe um dia ter uma banda. Os pais do Miguel não acreditaram, se calhar com razão. Mas num Natal, lá estava a caixa triangular suspeita. Chegada a meia-noite, foi aberta perante o espanto do Miguel. Não a aprendi a tocar e não sei se ele alguma vez reparou nisso.
Mais ou menos na mesma altura. Um Benfica miserável joga contra um Porto que iria eventualmente sacar 5 campeonatos seguidos. Saio de casa, ainda no Catujal e dirijo-me à sua, literalmente no outro lado da rua, para ver o jogo, que já tinha começado. Toco à porta e esta abre-se. Do cimo das escadas, oiço “Corre que ainda vês o golo!” Quando chego, afogueado, ao apartamento, vejo Valdo marcar o penálti e fazer o 1-0 (o jogo acabaria 2-1, para o Benfica marcou também João Pinto, o Porto reduziu por Emerson). Quando soube da sua morte, foi o som da sua voz a chamar-me o que primeiro me veio à cabeça.
2002. Anos depois de um divórcio turbulento da minha tia, vejo-o na sala de espera da clínica de Sto António, em Sacavém. A minha avó, que me acompanhava numa visita à médica de família, chama-o e tem um discurso que agora não interessa. Quando, ao fim de algum tempo, lhe aponta o Miguel e lhe pergunta se não o reconhece (e eu no meu canto, sempre muito envergonhado nestas situações), a frase do meu tio Carlos é lapidar: “Imaginava-o mais alto.”
Mais ou menos na mesma altura. Um Benfica miserável joga contra um Porto que iria eventualmente sacar 5 campeonatos seguidos. Saio de casa, ainda no Catujal e dirijo-me à sua, literalmente no outro lado da rua, para ver o jogo, que já tinha começado. Toco à porta e esta abre-se. Do cimo das escadas, oiço “Corre que ainda vês o golo!” Quando chego, afogueado, ao apartamento, vejo Valdo marcar o penálti e fazer o 1-0 (o jogo acabaria 2-1, para o Benfica marcou também João Pinto, o Porto reduziu por Emerson). Quando soube da sua morte, foi o som da sua voz a chamar-me o que primeiro me veio à cabeça.
2002. Anos depois de um divórcio turbulento da minha tia, vejo-o na sala de espera da clínica de Sto António, em Sacavém. A minha avó, que me acompanhava numa visita à médica de família, chama-o e tem um discurso que agora não interessa. Quando, ao fim de algum tempo, lhe aponta o Miguel e lhe pergunta se não o reconhece (e eu no meu canto, sempre muito envergonhado nestas situações), a frase do meu tio Carlos é lapidar: “Imaginava-o mais alto.”
1 comentário:
Ninguem podia ter escrito melhor...O que descreves demonstra tambem tudo o que senti... A vida leva nos a perder pessoas que nos foram importantes, até antes de morrerem...Fica a memoria de tardes de domingo muito bem passadas...
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