30 junho 2009
25 junho 2009
Jackson RIP
Que a excentricidade, os bebés pendurados da varanda, as mudanças de cor e até a indesculpável pedofilia não apaguem um pormenor: até Thriller (1984), tudo foi ... genial! A inventividade, a trituradora da música negra dos 30 anos anteriores, as novas tecnologias utilizadas na maior das suas capacidades. Para o bem e para o mal, a música de hoje não seria igual. Mais do que lembrar casos de polícia, ouçamo-lo.
Infelizmente, a versão completa do videoclip de Thriller não estava disponível para incorporar no blogue.
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Michael Jackson
24 junho 2009
Separados à nascença
Não sei se é da época mas parecem-me claras as semelhanças entre "Meeting Across the River", sétima canção de Born to Run de Bruce Springsteen e Taxi Driver de Martin Scorsese. É óbvio que muito disso parte da irmandade entre os saxofones de Clarence Clemmons na E-Street Band e da banda sonora que Bernard Hermann compôs para a obra-prima de Scorse. Mas há mais: um ano a separar as obras (Born to Run de 1975, Táxi Driver de 1976); aquele desejo imparável de redenção, que fará os protagonistas fazerem coisas desesperadas para a atingirem; e a cidade de Nova Iorque como um nocturno palco climático. Caso duvidem, aqui vai uma pequena demonstração.
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Reflexões Cinéfilas
21 junho 2009
TAKE - Junho 2009
Está já disponível o número 16 da revista Take (clicar na imagem), o primeiro em que tive o prazer de participar. Assinados por mim, encontram-se lá uma crítica a Um Conto de Natal de Arnaud Desplechin, um texto de homenagem a João Bénard da Costa, uma antevisão de Where the Wild Things Are de Spike Jonze e uma entrevista a António-Pedro Vasconcelos. Um obrigado pelo convite ao director José Soares e ao editor Miguel Reis.
15 junho 2009
Sumaríssimos (5)
Reservo-me o direito de mudar esta visão, quando puder rever a obra-prima de Jacques Demy, mas das visões que fiz de Les Parapluies de Cherbourg (1964), sempre me pareceu estarmos perante uma história banal e corriqueira, ascendida ao ponto de tragédia pelo brilhante tratamento formal que o cineasta lhe dava, nomeadamente o seu “em cantamento” total e a arte pura das suas coreografias, que tornava a história da rapariga que vive um amor proibido pela mãe em algo de profundamente fresco e solidamente sério, mesmo 45 anos depois. Com este Les Demoiselles de Rochefort (1967), feito a meias com a esposa Agnès Varda, comédia sentimental de enganos, parecemos estar perante algo diferente. A saber: uma nova exposição da ideia que tão bem caracteriza o Madame de... de Max Ophuls, “os assuntos apenas superficialmente superficiais”. Se Cherbourg exalava o peso da condição rural e da guerra da Argélia como factor de separação, Rochefort espalha por diversos momentos os perigos de um mundo que, parecendo anacrónico porque retirado de um musical americano (esteve lá Gene Kelly a representar e a coreografar), quer nos conflitos que são lidos nos jornais (e em 1967 já o Vietname medrava a toda a velocidade), quer no caso do sr. Dutrouz, que acaba por se revelar um sádico num mediático crime passional, demonstra ter perfeita noção das convulsões que o rodeiam. Também são abundantes as referências sexuais, num constatar da revolução sexual então em curso, e que até têm direito a uma canção inteira. Mas o núcleo do filme, o encontrar do amor por três casais diferentes, bem como o seu tratamento colorido, jazzístico, esfuziante, mostram que este é um filme em que Demy se apossou da mais básica função de “em cantar”: a de levar para outro mundo, a de escapar e maravilhar, utilizando para isso, tanto quanto a música de Michel Legrand, as cores berrantes e o cenário veraneante. Filme escapista com um olhar nos tempos? É nesse equilíbrio esdrúxulo que reside o maior interesse de Les Demoiselles de Rochefort.
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Sumaríssimos
11 junho 2009
Sumaríssimos (4)
O hype começa numa secretária, comercial ou jornalística, e demora o seu tempo até chegar ao consumidor. Peguemos como exemplo nesta suposta (ainda é cedo para dizer) nova vaga no cinema americano, igualmente apelidada de neo-realismo americano ou mumblecore. Apesar de já há alguns meses se ouvir falar de filmes como Wendy and Lucy (Kelly Reichart, 2008) e Ballast (Lance Hammer, 2008), só agora estreia nas salas portuguesas o primeiro filme a poder ser enquadrado nesta onda. E o resultado é iminentemente positivo: a julgar por Shotgun Stories, estreia de Jeff Nichols datada ainda de 2007, poderemos sonhar com uma das fases mais estimulantes no cinema americano recente. Shotgun Stories é uma belíssima anti-saga familiar, com pouco de climático e onde a tragédia tem mais de surdina do que de gritado. História de três irmãos (Sonny, Boy e Kid) cujo pai alcoólico e violento se redimiu, criou nova família e a ela deu tudo o que não havia dado à família inicial e que acabam por se digladiar com os meios-irmãos quando os três protagonistas invadem o funeral do progenitor e lhe cospem no caixão, é um filme tenso. Silencioso, num curioso ritmo que não pode ser definido nem como lento nem como veloz e com personagens lacónicas mas com imensa profundidade, é rarefeito e despojado, sem efeitos outros que o estritamente necessário. O seu maior mérito, contudo, é a capacidade telúrica de situar os seus valores e as suas acções naquele mundo triste, de sol desbotado e casas degradadas, de morte e desolação, trazendo um pequeno contacto com um mundo muito perto do de Raymond Carver. Agora expliquem-nos porque demorou um ano a estrear…
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04 junho 2009
01 junho 2009
Sangue na neve
O cinema de vampiros não anda bem. Em boa verdade, o decréscimo qualitativo deste sub-género está ligado à falta de qualidade recente de todo o género maior em que se enquadra, o cinema de terror. Desde o início da década de 1990, lembro-me apenas de dois filmes de vampiros dignos dos pergaminhos do género: o Drácula de Bram Stoker (1992) de Francis Coppola e o Vampiros de John Carpenter. Fora estes, os sucessos sanguinolentos ficaram-se por Queen of the Damned (2002), vampiros em versão nu-metal; Crespúsculo (2008), vampiros em versão juventude Bush, castos mas com as calças a arder eo cú aos saltos; e, indo ainda mais atrás, Entrevista com o Vampiro (1993), vampiros em versão “mas-isto-interessa-a-alguém?”
A espera, no entanto, acabou. Deixa-me entrar, terceiro filme do realizador sueco, de larga experiência televisiva, Tomas Alfredson, é a versão fria, lúcida, de um mito que encontra no erótico e no medo irracional a sua razão de ser. Nada sensual e mantendo os sustos ao mínimo, pouco se importando em relembrar a mitologia ou em sublinhar os códigos, Deixa-me entrar é um belo filme sobre a juventude, sobre os problemas que dez anos depois parecerão minúsculos, sobre o despertar dos sentimentos. A história de um jovem cujo juízo é azucrinado por um grupo de rufias e que descobre na vampira que vive no andar do lado não só o amor mas também a paz que procura, é dada numa velocidade de cruzeiro, racional e ponderada. O sentimento e o sangue são habilmente doseados e os excessos cortados e o filme resulta equilibrado. É dado ao espectador tempo suficiente para conhecer as personagens até que, quando chegamos à violência, esta funciona não como centro nevrálgico nem como explosão orgiástica, mas como um elemento intrínseco àquele universo, mas um entre outros. Este não é, então, um filme-choque, mas antes um objecto minimal, que mistura habilmente o conto de fadas para adultos à Terence Fisher com o filme de arte, como uma peça musical de câmara, de tradição sueca (não preciso nomear, pois não?).
Resta dizer que, juntamente com tacto e percepção, não faltam a Tomas Alfredson boas ideias visuais. Destaque para a vampira que arde na cama do hospital, para a cena da visita de Elvira ao quarto do pai no hospital, com uma brilhante utilização da janela enquanto ecrã dentro do ecrã, bem como para a forma como o som e a elipse disfarçam muito bem a (relativa) ausência de meios para efeitos especiais. Contudo, o melhor momento do filme é de longe a sequência da piscina, que poderá ocupar um lugar idêntico ao que hoje ocupa o massacre final de Carrie (Brian de Palma, 1976).
Não só é uma grande surpresa, como é de grande classe e talento. Ferrem-lhe os dentes com toda a força!
A espera, no entanto, acabou. Deixa-me entrar, terceiro filme do realizador sueco, de larga experiência televisiva, Tomas Alfredson, é a versão fria, lúcida, de um mito que encontra no erótico e no medo irracional a sua razão de ser. Nada sensual e mantendo os sustos ao mínimo, pouco se importando em relembrar a mitologia ou em sublinhar os códigos, Deixa-me entrar é um belo filme sobre a juventude, sobre os problemas que dez anos depois parecerão minúsculos, sobre o despertar dos sentimentos. A história de um jovem cujo juízo é azucrinado por um grupo de rufias e que descobre na vampira que vive no andar do lado não só o amor mas também a paz que procura, é dada numa velocidade de cruzeiro, racional e ponderada. O sentimento e o sangue são habilmente doseados e os excessos cortados e o filme resulta equilibrado. É dado ao espectador tempo suficiente para conhecer as personagens até que, quando chegamos à violência, esta funciona não como centro nevrálgico nem como explosão orgiástica, mas como um elemento intrínseco àquele universo, mas um entre outros. Este não é, então, um filme-choque, mas antes um objecto minimal, que mistura habilmente o conto de fadas para adultos à Terence Fisher com o filme de arte, como uma peça musical de câmara, de tradição sueca (não preciso nomear, pois não?).
Resta dizer que, juntamente com tacto e percepção, não faltam a Tomas Alfredson boas ideias visuais. Destaque para a vampira que arde na cama do hospital, para a cena da visita de Elvira ao quarto do pai no hospital, com uma brilhante utilização da janela enquanto ecrã dentro do ecrã, bem como para a forma como o som e a elipse disfarçam muito bem a (relativa) ausência de meios para efeitos especiais. Contudo, o melhor momento do filme é de longe a sequência da piscina, que poderá ocupar um lugar idêntico ao que hoje ocupa o massacre final de Carrie (Brian de Palma, 1976).
Não só é uma grande surpresa, como é de grande classe e talento. Ferrem-lhe os dentes com toda a força!
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