09 dezembro 2009

A banda da década?

You don´t need to find answers/ to questions never asked of you
in “Two More Years”
We promised the world we’d tame it/ What were we hopping for?
in “Pioneers”


Musicalmente, a década que agora finda foi extremamente proveitosa. O rock rejuvenesceu, através dos Strokes, White Stripes, Queens of the Stone Age, Interpol, Yeah Yeah Yeahs e muitos outros. A electrónica deu-nos muitos e bons nomes, mas basta citar LCD Soundsystem para a década estar ganha. Arcade Fire, The National e Antony and the Johnsons foram profunda fonte de catarse. Na pop, o lado arty dos Franz Ferdinand conjugou-se na perfeição com o caleidoscópio dos MGMT e com a desbocada Lily Allen. Em Portugal, discos de Old Jerusalem, Humanos, Linda Martini, os fantásticos Golpes e os sobrevalorizados Pontos Negros dão esperança no futuro. Mas qual foi a banda que melhor capturou o aspecto humano contra e dentro do zeitgeist? A resposta, para mim, só pode ser uma: Bloc Party.



É certo que todos os nomes internacionais atrás referidos são, esteticamente, muito melhores que os Bloc Party. É igualmente certo que são musicalmente limitados. E é indiscutível que o seu percurso tem sido a pique, descendendo da estreia Silent Alarm (2005) para o seguinte A Weekend in the City (2006) e ainda mais com o terceiro Intimacy (2008). Mas os Bloc Party juntam, da forma mais coerente e mais recompensadora, os diversos matizes da vida contemporânea. Banda de canções mais do que de álbuns, neles se pode ver: a energia dos começos ("Little Thoughts"), a espera pelos momentos em que os problemas serão debelados ("Two More Years"), pequenos momentos de declaração amorosa ("So here we are" ou "Sunday"), retratos da vida (sub)urbana ("A Song for Clay" ou "Waiting for the 7 18"), a impotência de quem olha para o mundo virado do avesso e nada consegue fazer ("Pioneers") ou a tristeza pelo fim dos relacionamentos ("Signs"). Por detrás de uma banda aparentemente limitada, esconde-se uma obra bem mais preenchida e sentimentalmente ampla do que parece.



A compor este ramalhete, aparece a construção (a ilusão, se quiserem). Mimetizando o mundo actual, a música dos Bloc Party parece cheia de néons e edifícios de vidros espelhados, de telemóveis topo de gama com acesso ao Facebook e ao Twitter, do crescimento económico normalizador do mundo capitalismo, do bulício nocturno à volta de bares e discotecas onde as pessoas tentam expurgar as suas neuroses e limitações, das madrugadas em que se volta a casa embriagado, com frio e cansado mas com a sensação da catarse feita. Não é que se pareçam connosco (afinal de contas, quantos de nós tocaram em Glastonbury?) mas disfarçam muito bem.



Se os Bloc Party estão a caminho do fim (a falta de qualidade de Intimacy assim o parece indicar), pouco importa. Não terão o futuro que parecem ainda ter os Arcade Fire ou os MGMT, mas isso só parece reforçar o ponto que tento fazer: o de uma música que vive desta década e para esta década como poucas e que, por isso a ela pertence e nela se parece esgotar.

3 comentários:

Juom disse...

Percebo perfeitamente muitos do teus pontos aqui mencionados, embora não concorde com todos. Mas essa sensação de actualidade, de podermos ver nos seus álbuns uma espécie de reflexo da década que vivemos, é bastante pertinente. Ainda assim, não sei se concordo tanto a ideia de que seja uma banda em percurso descendente, especialmente porque acho A Weekend In The City melhor do que Silent Alarm, e Song for Clay uma das melhores canções dos últimos anos - e, tal como o autor que inspirou essa canção, Bret Easton Ellis e o seu Less Than Zero, os Bloc Party serão, nos seus melhores momentos, de uma forma ou de outra, sempre actuais. Admito, no entanto, que Intimacy me passou um pouco ao lado.

Não consigo, nem tenho a bagagem musical para escolher uma banda da década, mas sem dúvida que os álbuns que mais ouvi nos últimos anos foram Funeral e Neon Bible, por isso...

Miguel Domingues disse...

Os meus Funeral e Neon Bible, se fossem em vinil, por esta altura já estavam gastos.

Juom disse...

Os meus são em mp3 e já estão todos riscados :-P