No final dos anos 30, mercê de diversos problemas com os estúdios ao longo da década e que injustamente apagaram, na cabeça dos produtores, os muitos sucessos anteriores, King Vidor não tinha a vida facilitada. Felizmente, The Citadel (1938) inverteu a situação e permitiu a existência do belíssimo mas complexo The Northwest Passage (1940), adaptação da primeira parte do à época famoso romance homónimo de Kenneth Roberts. Superprodução em technicolor onde a grandiosidade do cinema de Vidor podia brilhar em toda a amplitude, acabou por sofrer limitações por parte da MGM, preocupada com o custo galopante da obra, e não só não repetiu o sucesso da obra anterior como voltou a lançar Vidor numa travessia do deserto, não filmando entre 1941 e 1944.
Idealmente, esta história da conquista do território americano a índios e franceses estava pensada para servir de incitação patriótica ao público norte-americano em vésperas do início da participação na Segunda Guerra Mundial. Contudo, é um filme ideologicamente complexo, a que muitos apelidaram de fascista, sobretudo pela personagem carismaticamente desempenhada por Spencer Tracy. É certo que o Major Robert Rogers tem, na sua devoção total ao brio e ao método militar bem como, e sobretudo, na maneira como vê e mata índios, muitos aspectos totalitários e até fascistas. Contudo, o filme equilibra essa componente através das demonstrações de respeito e interesse que Rogers tem pelos seus homens, bem como pela tónica nas dificuldades por que passavam aqueles homens (sempre vistos como heróis), que forçavam a existência de atitudes menos correctas mesmo vindas de pessoas de moral acima de qualquer suspeita. Essencialmente, concordo com a opinião de João Bénard da Costa na respectiva folha da Cinemateca (de onde são, aliás, retirados os dados históricos citados no início): mais do que ideologia, que pode ser vista aqui, deve-se ver realismo, sobretudo na violenta sequência da destruição da aldeia índia. Ninguém disse que durante a construção de um país não se sujam as mãos.
Curioso é que no meio das acusações de fascismo, um pormenor tenha sido esquecido: com a acção situada antes da Revolução Americana, apenas no início, e à laia de McGuffin, há a contestação ao Império Britânico. De resto, até há planos em que a Union Jack voa ao vento de forma muito conspícua. Se Vidor põe de lado o ímpeto anti-imperialista no retrato da vida colonial da América, então está definitivamente provado que o interesse era retratar e não politizar.
O que, por sua vez, se estende à componente estética. Do mesmo modo que a personagem de Robert Young pretende ser um pintor na senda de Rubens ou Velasquez (e é difícil não ver a influência deste último na construção geométrica do encontro de Young com a família da sua amada), interessa a Vidor pintar uma paisagem e povoá-la com um povo. Como em Man Without a Star (1955) e, obviamente, Duel in The Sun (1946), o que aqui vemos é uma visão ideal, pictoricamente estilizada através do technicolor, da paisagem norte-americana e da interacção das personagens com ela (note-se a magnífica sequencia em que é a corrente humana que permite combater a corrente de um rio), não se coibindo mesmo, no final do filme, de exaltar em monólogo as virtudes do território americano. Mais perto de Ford do que de Hawks, Vidor mantém aqui a sua componente de cineasta telúrico, talvez mesmo o maior de todos.
Idealmente, esta história da conquista do território americano a índios e franceses estava pensada para servir de incitação patriótica ao público norte-americano em vésperas do início da participação na Segunda Guerra Mundial. Contudo, é um filme ideologicamente complexo, a que muitos apelidaram de fascista, sobretudo pela personagem carismaticamente desempenhada por Spencer Tracy. É certo que o Major Robert Rogers tem, na sua devoção total ao brio e ao método militar bem como, e sobretudo, na maneira como vê e mata índios, muitos aspectos totalitários e até fascistas. Contudo, o filme equilibra essa componente através das demonstrações de respeito e interesse que Rogers tem pelos seus homens, bem como pela tónica nas dificuldades por que passavam aqueles homens (sempre vistos como heróis), que forçavam a existência de atitudes menos correctas mesmo vindas de pessoas de moral acima de qualquer suspeita. Essencialmente, concordo com a opinião de João Bénard da Costa na respectiva folha da Cinemateca (de onde são, aliás, retirados os dados históricos citados no início): mais do que ideologia, que pode ser vista aqui, deve-se ver realismo, sobretudo na violenta sequência da destruição da aldeia índia. Ninguém disse que durante a construção de um país não se sujam as mãos.
Curioso é que no meio das acusações de fascismo, um pormenor tenha sido esquecido: com a acção situada antes da Revolução Americana, apenas no início, e à laia de McGuffin, há a contestação ao Império Britânico. De resto, até há planos em que a Union Jack voa ao vento de forma muito conspícua. Se Vidor põe de lado o ímpeto anti-imperialista no retrato da vida colonial da América, então está definitivamente provado que o interesse era retratar e não politizar.
O que, por sua vez, se estende à componente estética. Do mesmo modo que a personagem de Robert Young pretende ser um pintor na senda de Rubens ou Velasquez (e é difícil não ver a influência deste último na construção geométrica do encontro de Young com a família da sua amada), interessa a Vidor pintar uma paisagem e povoá-la com um povo. Como em Man Without a Star (1955) e, obviamente, Duel in The Sun (1946), o que aqui vemos é uma visão ideal, pictoricamente estilizada através do technicolor, da paisagem norte-americana e da interacção das personagens com ela (note-se a magnífica sequencia em que é a corrente humana que permite combater a corrente de um rio), não se coibindo mesmo, no final do filme, de exaltar em monólogo as virtudes do território americano. Mais perto de Ford do que de Hawks, Vidor mantém aqui a sua componente de cineasta telúrico, talvez mesmo o maior de todos.
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