Quem for a ler o meu texto anterior pensará que a minha vontade em ter cinema na RTP2 regularmente se prende com saudosismo. Afinal de contas, foi a minha juventude, uma época que, à distância, parece menos complexa do que a actual e uma em que o cinema parecia menos subalterno no panorama cultural do que parece hoje.
Não nego que haja alguma saudade desse tempo, mas tê-la como o motivo principal é confundir a parte pelo todo. Primeiro, porque a possibilidade de cativar novos cinéfilos via uma programação fílmica regular e cuidada mantém-se intacta: não só não há qualquer custo em ver um filme na televisão como um filme que seja anunciado com relativa antecedência poderá inserir no espectador o germe da curiosidade. Depois, para aqueles que dizem que hoje a relação do espectador com o cinema passa muito pela Internet, é um facto, mas começar a conhecer um cineasta na televisão poderá fazer alguém dar corda ao P2P (ou até, pasme-se! comprar dvds, ir mais ao cinema e até à Cinemateca), contribuindo para um maior conhecimento da arte. Por último, e partindo do principio de que o cinema, regressando à RTP2, teria provavelmente de ocupar o mesmo horário que anterior (final da noite/principio da madrugada), existem actualmente métodos tecnológicos, nomeadamente as boxes de gravação das diversas operadoras de cabo, que possibilitam a visão posterior e a eventual revisão dos filmes (e de todo e qualquer programa, na realidade). Assim, se não se deve tentar repetir estritamente o passado, a eventual desculpa de que os tempos mudaram também não cola.
Neste contexto actual, fragmentado, pós-moderno, ambivalente, em que os filmes, de qualidades, épocas, autores e proveniências muito diferentes ocupam o mesmo espaço mediático sem grande critério, a exibição regular de filmes na RTP2, conquanto obedecesse a critérios rígidos, não de qualidade (sempre discutível) mas de “tipologia” (cinema de autor, cinema europeu, tudo o que os espaços mainstream não consigam ou não queiram divulgar), não resolveria todos os problemas mas teria uma clara vantagem: daria alguma ordem ao caos, criando rituais de visionamento, de discernimento estético e de conhecimento e comparação de obras. E houve muito cinéfilo que começou a sê-lo precisamente devido ao fascínio com esses rituais…
Finalmente, haveria a questão da quantidade de público para um tipo de cinema que ultrapassasse aquilo que passa nos outros canais, normalmente na tarde de fim-de-semana. Mas quanto à sua existência já não há grandes dúvidas, pois não?
Não nego que haja alguma saudade desse tempo, mas tê-la como o motivo principal é confundir a parte pelo todo. Primeiro, porque a possibilidade de cativar novos cinéfilos via uma programação fílmica regular e cuidada mantém-se intacta: não só não há qualquer custo em ver um filme na televisão como um filme que seja anunciado com relativa antecedência poderá inserir no espectador o germe da curiosidade. Depois, para aqueles que dizem que hoje a relação do espectador com o cinema passa muito pela Internet, é um facto, mas começar a conhecer um cineasta na televisão poderá fazer alguém dar corda ao P2P (ou até, pasme-se! comprar dvds, ir mais ao cinema e até à Cinemateca), contribuindo para um maior conhecimento da arte. Por último, e partindo do principio de que o cinema, regressando à RTP2, teria provavelmente de ocupar o mesmo horário que anterior (final da noite/principio da madrugada), existem actualmente métodos tecnológicos, nomeadamente as boxes de gravação das diversas operadoras de cabo, que possibilitam a visão posterior e a eventual revisão dos filmes (e de todo e qualquer programa, na realidade). Assim, se não se deve tentar repetir estritamente o passado, a eventual desculpa de que os tempos mudaram também não cola.
Neste contexto actual, fragmentado, pós-moderno, ambivalente, em que os filmes, de qualidades, épocas, autores e proveniências muito diferentes ocupam o mesmo espaço mediático sem grande critério, a exibição regular de filmes na RTP2, conquanto obedecesse a critérios rígidos, não de qualidade (sempre discutível) mas de “tipologia” (cinema de autor, cinema europeu, tudo o que os espaços mainstream não consigam ou não queiram divulgar), não resolveria todos os problemas mas teria uma clara vantagem: daria alguma ordem ao caos, criando rituais de visionamento, de discernimento estético e de conhecimento e comparação de obras. E houve muito cinéfilo que começou a sê-lo precisamente devido ao fascínio com esses rituais…
Finalmente, haveria a questão da quantidade de público para um tipo de cinema que ultrapassasse aquilo que passa nos outros canais, normalmente na tarde de fim-de-semana. Mas quanto à sua existência já não há grandes dúvidas, pois não?
Relembro a ideia do Luis Mendonça, a que se juntaram o Carlos Natálio, o João Paulo Costa, o João Palhares e o Ricardo, pelo menos para já, de fazer uma petição que apele ao regresso do cinema regularmente à RTP2. Estamos no momento de contar espingardas, de ver quantos apoios temos e de organizar as coisas, para avançarmos em força na reentrée. Quem se quiser juntar a nós pode sempre comentar aqui ou no Cinedrio ou informar-nos através do endereço de email petiçãortp2@hotmail.com. Muito em breve os meus amigos e conhecidos receberão também informações relativas a esta iniciativa. Sugiro que façam o mesmo.
2 comentários:
Estou completamente a fim de um abaixo assinado. Conta comigo!
Falas das boxes e confesso que me tenho sentido ainda mais lesado pela falta de cinema na TV agora que tenho MEO. Gravo imenso, porque nunca custou tão pouco, mas raras são as gravações da RTP2 - tenho gravado sobretudo de canais como o Hollywood, TCM e mesmo Foxes. Terrível pensar que a maioria da população nem tem acesso a estes canais...
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