Durante anos dizia, e acreditava, que só aguentava toda a trampa que um gajo tem de aguentar durante o ano por causa dos festivais de Verão. Uma ou duas vezes por ano, em Julho ou em Agosto, passava um longo dia de Verão a ouvir boa musica, a beber cerveja fresca e a banhar-me em vento e sol. Vi coisas magníficas ao vivo, confirmei grandes artistas e também tive a minha quota parte de desilusões. Contudo, tendo ido a dois festivais de 3 dias neste Verão (incluindo o Primavera Sound, no Porto, no meu primeiro festival fora da área metropolitana de Lisboa), creio estar no fim da linha no que toca aos festivais.
Sempre achei que gostava dos festivais por tudo o que neles havia de mau - ou por achar que essas dificuldades faziam parte da mística dos eventos. Hoje em dia, já não aguento essas mesmas coisas. A multidão já não me parece uma comunidade ou uma reunião das tribos, mas uma chatice insuportável; a cerveja e a comida já não me parecem caras, parecem-me exorbitantes; os grunhos que vão buscar cerveja para eles e para os amigos e pisam toda a gente no regresso as filas da frente já só me parecem merecedores de um soco nas trombas, assim como aquele grupinho que não parava de conversar durante os Radiohead no Optimus Alive merecia ser corrido à mangueirada; as casas de banho já não me parecem apenas apenas sujas, parecem-me viveiros de infecções daquelas que aterrorizam qualquer antibiótico; e nem me façam falar da chatice que e passar de um palco para o outro, aos encontrões e tropeções numa corrente impenetrável.
Apesar de tudo, mesmo no Optimus Alive deste ano ainda houve dois momentos extra-musicais memoráveis: o pão com chouriço ainda quente comido a ouvir os Cure interpretar "The Lovecats" ou o por-do-sol ameno que, sentado no chão do passeio marítimo de Algés, me batia na face ao som de "Naive", a única boa canção que os medíocres The Kooks alguma vez escreverão. Não posso dizer que seja a ultima vez que irei a um festival, tudo dependera dos nomes em cartaz (se os Smiths se reunissem, até a um festival no Tibete eu ia vê-los) , mas a partir de agora darei prioridade a concertos de sala onde possa ver a face dos artistas e onde não tenha que levar com cinco bandas fracas antes de ver aquelas que eu quero ou de deixar o carro (literalmente) a 3 km de distância e ter de andar 45 minutos depois dos concertos para ir para casa. No futuro, então, festivais só por causa de bandas que me sejam muito, mas mesmo muito queridas. Obrigado, então, às bandas que vi em festivais ao longo destes 14 anos - estreei-me no SBSR realizado dentro da Expo 98: Morphine (a poucos dias da prematura morte em palco de Mark Sandman), Franz Frdinand (no primeiro festival que vi com a minha mulher) , Editors, The National, Gogol Bordello, Vampire Weekend, The Strokes, Arcade Fire, Stone Roses, James, The Cure, Suede, Flaming Lips, Beach House, Radiohead e muitos outros. Pode ser que nos vejamos num Pavilhão Atlântico, num Coliseu, num Campo Pequeno ou numa Aula Magna.
1 comentário:
Deixa tar. Eu, em contrapartida, não posso finalizar vida como festivaleiro porque nunca a iniciei. Nunca fui a nenhum festival de música na vida, talvez por nunca ter tido juventude digna desse nome, talvez por não conhecer as bandas...
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