15 junho 2007

A Indústria do Cool



Os filmes da trilogia do bando de Danny Ocean são o sonho do cinéfilo. Com eles, Steven Soderbergh tem conseguido um equilíbrio perfeito entre um delicioso entretenimento e uma perfeição ímpar das formas fílmicas. Assim, ao grupo de actores mais carismático que o cinema americano teve desde a década de 70 (e não é despiciendo que a Elliott Gould se tenha juntado, no mais recente tomo, Al Pacino) adicionou-se a ambientalmente utilíssima “modernidade retro” da música de David Holmes e a encenação sempre autochamativa mas narrativamente eficaz, sempre coadjuvada por uma utilização criteriosa do filtro colorido de imagem.

Ocean’s 13 não é um objecto necessário à história do Cinema ou ao seu momento actual. Não trará quaisquer novos fãs à trilogia. E, inclusivamente, há uma função quase de McGuffin no golpe que domina a segunda metade do filme, tão relevante para a sucessão de piadas privadas que o formam quanto a componente clínica o é para o estudo da misantropia de Gregory House. A função de Ocean’s 13 é uma função predominantemente comercial, a de gerar a liquidez necessária a um cineasta com gosto pelo experimental e a um grupo de actores cada vez mais empenhado política e humanitariamente. Contudo, depois da classe do primeiro e da estupenda auto-irrisão do segundo, o terceiro é um gracioso acumular de mais piadas privadas que, se não fazem rir desbragadamente, pelo menos geram uma recompensadora bonomia – são impagáveis as sequências “revolucionárias” passadas no México. Vale pelos bigodes, pelas próteses nasais e pelas piscadelas de olho ao programa de Oprah Winfrey. Não é muito, mas os travellings e a imaginação visual de Soderbergh compensam largamente a falta de relevância.

Em Almost Famous (Cameron Crowe, 2000), Lester Bangs queixa-se de que o rock foi transformado numa “indústria do cool”. Com este filme acontece o mesmo, mas de maneira mais positiva e, paradoxalmente, com mais autenticidade. Não havendo grandes motivos artísticos para um quarto filme, Ocean’s 13 é, então, um objecto à beira da irrelevância desprestigiante que é ganho pela forma descomplexada como alia o lúdico e o rentável ao estético. E será sempre melhor do que qualquer James Bond, paradigmas da mediocridade comercial.

2 comentários:

sandra torres disse...

Quando penso em Ocean's 11,12 e 13, a palavra "cool" é-lhe inevitavelmente associada. É um filme de acção, que fala dos bons (a equipa de Ocean), do mau (Terry Benedict -em grande estilo- Andy Garcia) e o vilão (Willy Bank - o eterno Al Pacino), mas que nao cai na tentação do "boy meets girl, fights for her, but then loses her". É um filme que motiva, que emociona, que faz rir, que torna a vingança num prato tão delicioso de servir. Digo isto, sobretudo, pelo real valor que foi transmitido sempre desde o início: a amizade.

Para mim, é a verdadeira crónica dos bons malandros.

Beijo*
;)

Hugo disse...

...e a malta gosta mesmo deste cool :-)