28 junho 2007

Notas da 'teca (2)


Inegável cronista da beleza e das virtudes (e defeitos) femininas, Kenji Mizoguchi realiza com Cinco mulheres em torno de Utamaro (1946) uma inegável operação de mise en abyme da sua obra. História de um pintor que via na beleza feminina a razão da sua arte, é uma pungente crónica das mulheres que o rodeiam e das suas atribulações sentimentais, dilaceradas entre desejos que não podem concretizar e as reacções brutais que esses desejos provocam. É, no limite, de uma relação entre personagem e cineasta que aqui se trata, e o olhar interior sobre o corpus do japonês permanece na escolha da sua figura central: também Mizoguchi (à semelhança de Kurosawa e das suas cores) podia ter sido pintor. É por demais evidente a mestria nos enquadramentos, que organizam as figuras humanas por modo a maximizar o efeito pretendido para cada cena e a utilização da profundidade de campo, magistral na construção de um cenário a um tempo realista e profundamente cinematográfico. Magistral.


Outra visão aqui.

3 comentários:

sandra torres disse...

;) Thank you*

Anónimo disse...

A identificação entre o criador-realizador e o criador-pintor-personagem foi o que mais me interessou no filme. E a procura pela essência da beleza feminina num filme em que as mulheres acabam por "roubar" o espaço do homem nos olhos do espectador.
Não foi dos Mizoguchi que gostei mais, mas há momentos magníficos, como Utamaro de mãos atadas, impedido de pintar. Tamanho desespero de alguém impossibilitado de se expressar pela única forma que sentia sua...

Hugo disse...

um dia deste começo a cravar direitos de autor pela expressão 'teca lolol :-)