A blogoesfera tem estas coisas, e o Claquete ainda mais. Depois de uma polémica postiça e frívola a favor de Ridley Scott, esse portento da liberdade cinematográfica contra tiranos como Straubs e Pedros Costas, decidem agora investir a favor de Charlton Heston.
Como sabe quem lê o meu blogue, homenageei Heston. Não era particularmente competente enquanto actor, mas teve a sorte de estar no momento certo na hora certa - os filmes com Welles e DeMille e também, em menor medida, Soylent Green e Planet of the Apes - Ben Hur, para mim, é mais um feito comercial que cinematográfico. Está na história do Cinema por esses filmes mas não era um dos melhores do seu tempo, nem de longe.
A questão é que, para o Claquete, não achar Weston um actor excepcional é um acto de ignorância e desfaçatez política e de "double-thinkink". Para João Eira, autor do texto, Heston "foi, acima de tudo, um lutador pela mais moderna e radical das liberdades – a necessidade de permitir a cada ser humano viver e pensar de forma independente, para além de esquematismos ou conveniências políticas e sociais do momento". E estou completamente de acordo: há maior liberdade do que poder mandar um balázio no bucho de alguém a seu bel-prazer? Penso que não.
Contudo, fazer política de forma rasteira é uma tentação de alguma blogoesfera nacional, e João Eira não lhe escapa. Ficamos a saber que, se alguém percebe que Heston não era um actor excepcional é porque tem a tendência de ver a denúncia orwelliana como um manual de crítica cinematográfica. Comentando, escandalizado, este obituário, Eira pergunta: "Será que o double-thinking de Orwell já anda por aí? De que outra forma justificar que a inteligência e o argumento passem por imbecilidade e o insulto por heroísmo, como parece acontecer na caixa de comentários do referido post? Ou que o imberbe berrante insulte o activista esforçado? Como explicar que mentiras factuais primárias (a NRA e Heston não deram a vitória a ninguém em 2000 e Heston não mudou de partido “da noite para o dia”) sejam postuladas como verdades intocáveis? Que, cravando um último prego no caixão da decência, um homem – com “h”´s e sabe-se lá mais o quê pequeno – chame fingido ao honesto?"
Como se a comédia involuntária não bastasse, Eira cita Pacheco Pereira, a quem apelida de "lúcido" (!!!!!). O texto do venerando comentador não será citado aqui, por motivos de higiene, mas é curioso de ver como Eira e Pereira não deixam de manter os seus espaços mesmo rodeados de lodo (como diz o colega de Eira). Porque, como aponta o texto de Pacheco Pereira, também eles acham que os problemas começam no blogue do lado.
Se Orwell soubesse em que viriam a ser utilizadas as suas brilhantes ideias, ter-se-ia mudado para a URSS.
2 comentários:
Pois, deparo-me com comentários do género no wb por ter tido a "ousadia" de dizer que Charles Heston não é um grande actor. Enfim...
Nem era grande actor nem era grande nada! Era um imbecil, como profissional, mas sobretudo como pessoa!
Enfim..., Cumprimentos cinéfilos!
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