14 junho 2008

Revisão da Matéria Dada - II

1.The Happening. Shyamalan está cansado. The Happening começa bem, com algumas boas ideias visuais (a pistola que percorre um caminho de suicídio entre várias pessoas; o contra-picado dos trabalhadores da construção civil a caírem), mas cedo se transforma num objecto rotineiro, despachado o mais depressa possível. Pior, não possui qualquer densidade dramática, nem humana nem pós-11 de Setembro. Depois da religiosidade foleira de Lady in the Water (o realizador parece nunca ter visto Dreyer ou Breson), outro espalhanço.

2.Sex & the City. Duas horas e quinze minutos depois, chega-se à conclusão de que este filme não existe. É um buraco negro cinematográfico, que cospe o interesse da série num lixo inane e óbvio para consumo rápido.

3.La Graine et le Mullet. Um fantástico épico proletário sobre a vontade de ser alguém e de deixar legado, mesmo que à beira da morte. Kechciche possui um estilo maleável e fortemente realista, procurando, com os seus planos muito fechados, quase imiscuir-se na realidade daquilo que filma. Habib Boufares e Hafsia Herzi são fantásticos, a gestão do tempo é admirável (duas horas e meia que passam num ápice) e, no final, ficamos com a sensação de termos estado in loco com aquelas pessoas, produtos da descolonização e vítimas da globalização. Fantástico.

9 comentários:

Juom disse...

Eu até gostei do Shyamalan, mas nunca chega ao nível a que já nos habituou anteriormente, embora a espaços haja ali cinema muito bem esgalhado. O plano da pistola que mencionas é fabuloso. Ah, e o Lady in the Water é sublime :-P

Sex and the City é mesmo para esquecer, e o La Graine et le Mullet para ver esta semana, espero eu.

Anónimo disse...

eu gostava era de ver nos blogues opiniões originais... para ler 'repetidores' do Luis Miguel Oliveira, mais vale ler o próprio...

Miguel Domingues disse...

Sim, ninguém dúvida que mais vale ler o LMO que este espaço. Agora, eu gostava é que os comentários fossem assinados...

Carlos Pereira disse...

Há muito que não me sentia tão próximo de personagens como em La Graine et le Mullet: é fabuloso. Sobre o novo de Shyamalan, penso que, salvo There Will Be Blood e We Own the Night, dificilmente haverá maior filme americano este ano. Quanto ao Sex & the City não me atrevi e acho que não vou mesmo gastar tempo precioso para ver algo não-cinematográfico num cinema...

Abraço

Anónimo disse...

Jovem Miguel,

Acha mesmo que para se fazer um grande filme é necessário ter visto Dreyer ou Bresson? Não concorda que a grandiosidade de Shyamalan é fazer filmes como se o cinema tivesse acabado de ser inventado? Se já teve oportunidade de ler alguma coisa sobre o assunto, terá verificado que as referências cinematograficas de Shyamalan são simples, não vai muito além de Spielberg ou Hitchcock, ele não é um especial conhecedor da história do cinema e não obstante filma como se a conhecesse de fio a pavio. Note: um grande realizador, nunca faz um mau filme. Já agora uma pergunta: considera mesmo o Richard Linklater, um tipo que faz filmes sobre inter-rails e escolas de rock é um grade realizador para fazer parte da sua coluna dos grandes?

Cumprimentos,

Pedro Tavares

Anónimo disse...

Jovem Miguel,

Acha mesmo que para se fazer um grande filme é necessário ter visto Dreyer ou Bresson? Não concorda que a grandiosidade de Shyamalan é fazer filmes como se o cinema tivesse acabado de ser inventado? Se já teve oportunidade de ler alguma coisa sobre o assunto, terá verificado que as referências cinematograficas de Shyamalan são simples, não vai muito além de Spielberg ou Hitchcock, ele não é um especial conhecedor da história do cinema e não obstante filma como se a conhecesse de fio a pavio. Note: um grande realizador, nunca faz um mau filme. Já agora uma pergunta: considera mesmo o Richard Linklater, um tipo que faz filmes sobre inter-rails e escolas de rock é um grade realizador para fazer parte da sua coluna dos grandes?

Cumprimentos,

Pedro Tavares

Miguel Domingues disse...

O tom não me merece grande resposta, mas...

"Acha mesmo que para se fazer um grande filme é necessário ter visto Dreyer ou Bresson?" - Ajuda.

"Não concorda que a grandiosidade de Shyamalan é fazer filmes como se o cinema tivesse acabado de ser inventado?" - Não, não concordo.

"Se já teve oportunidade de ler alguma coisa sobre o assunto..." - Já, já tive.

"...não obstante filma como se a conhecesse de fio a pavio." - Claro que sim...

"um grande realizador, nunca faz um mau filme." - Hitchcock fez maus filmes; Spielberg fez maus filmes: Woody Allen fez maus filmes; etc etc etc. Se calhar, fazia falta testar este lugar comum com a visão de filmes.

"considera mesmo o Richard Linklater, um tipo que faz filmes sobre inter-rails e escolas de rock é um grade realizador para fazer parte da sua coluna dos grandes?" - Se escola de rock pode ser considerado um filme banal (acho-o extremamente divertido), os dos inter-rail são fantásticos. E não sabia que um filme sobre inter-rail seria, pela sua temática, imediatamente inferior a um filme sobre uma criatura aquática que foge de monstros com a ajuda de um porteiro.

Anónimo disse...

Obviamente que o post era provocatório e propositadamente paternalista, mas ficam apenas algumas notas de alguém que na sua idade também escrevia com certezas semelhantes às suas:

- vai ver que com o tempo irá certamente descobrir grandes filmes, em filmes de grandes realizadores que tinha considerado maus ou menores; até pode ser que venha a descobrir que o Shymalan é um grande realizador, e o Linklater apenas um cineasta irrmediavelmente datado;

- Concordo consigo quando refere que conhecer os mestres ajuda, mas não é absolutamente necessário;

- Já agora para rematar indique-me uma ideia de cinema do Scholl of Rock, eu cá posso-lhe indicar pelos menos 20, da senhora da água ou do acontecimento.

Cumprimentos,

Pedro Tavares

Miguel Domingues disse...

Para acabar de vez com esta questão, porque não acho que o bilhete de identidade faça o cinéfilo:

1) Quem é que lhe disse que não gosto de alguns dos filmes de Shyamalan? Para sua informação, gostei bastante dos quatro primeiros. Daí que me chateie a banalidade e a lamechice destes dois últimos.

2) Claro que não; até há quem tenha blogues e afirme não ter vontade de ver nenhum Murnau. São gostos e, se calhar, são bilhetes de identidade...

3) Não lhe indico, porque em lado nenhum lhe disse que School of Rock era um grande filme ou uma obra-prima. São duas horas descontraídas e bem passadas. Acho-o muito divertido, e gosto da persona Jack Black, apenas e só. Quanto a boas ideias em The Happening, eu próprio as indico. Já agora, devo-lhe dizer que a possibilidade de arranjar boas ideias em Juno the Peacock é muito diminuta. Se calhar, mudo de opinião em relação a ele quando tiver a sua idade, como já mudei face a outros. O que acho inaceitável é a forma como se tem tentado sempre diminuir quem não acha Shyamalan a oitava maravilha do mundo.

Satisfeito? (A pergunta é retórica)