21 maio 2009

Benard R.I.P (Actualizada)

Não há que escamotear: morreu hoje uma referência para mim. Os textos de Bénard da Costa influenciaram muito não só a minha maneira de ver o cinema como a minha forma de ver filmes. Em larga medida, foi na Barata Salgueiro que vi muitos dos meus filmes de eleição pela primeira vez (Bitter Victory, Europa 51, Il Gattopardo, Dead Ringers, Imitation of Life, etc etc etc) e onde defendi sempre que passasse os mesmos clássicos repetidamente, para poderem ser vistos continuamente por putos como eu outrora fui, cheios de vontade de conhecer mais e melhor. E foi, mesmo antes de frequentar a Cinemateca, no ciclo de filmes que programou na RTP2 no final da década de 90, que gravei muitos dos Hitchcock que ainda tenho, e que foram seminais para aquilo que sou hoje. Inclusivamente ontem, sem nada saber, requisitei Os filmes da minha vida / Os meus filmes da vida da Biblioteca do Cacem, para reler pela segunda ou terceira vez.

Depois havia o lado mau. O lado de barão, representante de antigas famílias bem, capaz dos maiores actos de nepotismo num organismo pública. A implacável soberba dos poderosos, que nomeiam um subdirector sem a mais pequena capacidade para o cargo e ainda são aplaudidos por isso. A recusa de qualquer fiscalização daquilo que fazia e o desprezo agustiniano por tudo o que estivesse fora do seu mundo.

O tempo dirá qual será o legado prático – aquele que não se contabiliza em ciclos de há 25 anos – de Bénard da Costa. Mas que desaparece parte integrante do que foi o cinema em Portugal no pós-25 de Abril, não se perspectivando, por onde quer que se olhe, um futuro melhor, parece claro. Que o mexianismo que ai vem sirva, ao menos, para louvar o que de bom o foi.

12 comentários:

H. disse...

Confesso que sempre me passou ao lado todo esse lado menos bom, preferindo concentrar-me no muito que JBC teve de único e, admitamos, de insubstituível.
Independentemente do que venha a ser o futuro da Cinemateca, ela não voltará a ser igual ao que conhecemos (e devo dizer que concordo contigo na medida em que não parece, para já, que a mudança venha a ser para melhor) e, embora o que o JBC escreveu sobre Cinema permaneça, vamos sentir a sua falta...

Unknown disse...

Eu ainda não percebi esse ' lado mau'. E essa de "um subdirector sem a mais pequena capacidade para o cargo"! Mas porquê? Sinceramente...

Luís A. disse...

Um dos maiores "pensadores" do cinema mundial. As suas análises eram únicas e impossiveis de imitar.

Miguel Domingues disse...

Luis: Inteiramente de acordo.

Harry Madox: Custou-me a aceitar esse lado mau, mas hoje acho-o inequivoco, parte intrinseca de um homem enorme, dos maiores que o cinema em Portugal teve. Quanto ao Mexia, a minha opiniao e essa, venha quem vier, e baseia-se em inumeros comentarios e criticas que dele li, bem como a de ver os filmes com a filiacao politica sempre em mente. Se houve quem achasse que, apesar da excelente programacao e dos textos magnificos, Benard devia sair, eu tambem posso achar que Mexia, barao moderno sem o conhecimento, nao e apropriado para o cargo, com gente como Joao Mario Grilo e Jose Manuel Costa ainda por ai.

Miguel Domingues disse...

No comentario anterior, leia-se: "bem como no facto de Mexia ver os filmes com a filiacao politica sempre em mente".

Miguel Marías disse...

En fin, cada cual en su lugar se hace sus enemigos, y si dura peor. Pero creo que, con sus defectos, manías o errores de los que nadie nos libramos, la aportación de J.B.C. a la cultura cinematográfica y al cine portugués es envidiable. Era amigo, pero también era un modelo. Y un crítico excepcional, que jamás caía en las vulgaridades de moda ni en la machacona repetición de obviedades. Fué de los grandes cinematequeros que pude conocer, tras Langlois y Ledoux. Seguro que lo echaréis de menos.
Miguel Marías

Miguel Domingues disse...

Miguel Marias: Nao sou inimigo de Benard. Pelo contrario, sou fa dele e sempre o defendi em todas as ocasioes em que achava que ele tinha razao. Muito do que hoje temos devemo-lo a ele. E um verdadeiro insubstituivel e uma enorme influencia para mim. Os pecadilhos que ai aponto sao apenas um lado do Homem, muito superado pelo que de bom deixou. O meu texto ate e motivado por muita da preocupacao sobre o que vira depois dele. Isso e o que me assusta. A importancia, nunca ninguem lha podera tirar.

saudacoes ibericas

Carlos M. Reis disse...

Caro Miguel, não encontro o teu e-mail. Se não te importares, chuta-o para cinemanotebook[at]gmail.com.

Um abraço.

Unknown disse...

Curiosamente o próprio João Mário Grilo acha que Pedro Mexia reune as condições para suceder a Bénard.

Miguel Domingues disse...

Elementar direito que lhe assiste, Harry. Como a mim me assiste considerar que Mexia nao e a pessoa certa para o trabalho.

Unknown disse...

Claro.

Tiago Lucas disse...

acho esse mexia uma péssima escolha, obviamente. uma pessoa que escreve tão mal só pode ser idiota, e, portanto, incompetente para o cargo. li partes do blog dele e alguns poemas, para chegar a esta opinião. é o cúmulo do ridículo, um gajo destes escrever seja para onde for. enfim, só num país de provincianos é que uma merda destas acontece. é revoltante, mas não me surpreende.