
Não há que escamotear: morreu hoje uma referência para mim. Os textos de Bénard da Costa influenciaram muito não só a minha maneira de ver o cinema como a minha forma de ver filmes. Em larga medida, foi na Barata Salgueiro que vi muitos dos meus filmes de eleição pela primeira vez (
Bitter Victory,
Europa 51,
Il Gattopardo,
Dead Ringers,
Imitation of Life, etc etc etc) e onde defendi sempre que passasse os mesmos clássicos repetidamente, para poderem ser vistos continuamente por putos como eu outrora fui, cheios de vontade de conhecer mais e melhor. E foi, mesmo antes de frequentar a Cinemateca, no ciclo de filmes que programou na RTP2 no final da década de 90, que gravei muitos dos Hitchcock que ainda tenho, e que foram seminais para aquilo que sou hoje. Inclusivamente ontem, sem nada saber, requisitei
Os filmes da minha vida / Os meus filmes da vida da Biblioteca do Cacem, para reler pela segunda ou terceira vez.
Depois havia o lado mau. O lado de barão, representante de antigas famílias bem, capaz dos maiores actos de nepotismo num organismo pública. A implacável soberba dos poderosos, que nomeiam um subdirector sem a mais pequena capacidade para o cargo e ainda são aplaudidos por isso. A recusa de qualquer fiscalização daquilo que fazia e o desprezo agustiniano por tudo o que estivesse fora do seu mundo.
O tempo dirá qual será o legado prático – aquele que não se contabiliza em ciclos de há 25 anos – de Bénard da Costa. Mas que desaparece parte integrante do que foi o cinema em Portugal no pós-25 de Abril, não se perspectivando, por onde quer que se olhe, um futuro melhor, parece claro. Que o mexianismo que ai vem sirva, ao menos, para louvar o que de bom o foi.
12 comentários:
Confesso que sempre me passou ao lado todo esse lado menos bom, preferindo concentrar-me no muito que JBC teve de único e, admitamos, de insubstituível.
Independentemente do que venha a ser o futuro da Cinemateca, ela não voltará a ser igual ao que conhecemos (e devo dizer que concordo contigo na medida em que não parece, para já, que a mudança venha a ser para melhor) e, embora o que o JBC escreveu sobre Cinema permaneça, vamos sentir a sua falta...
Eu ainda não percebi esse ' lado mau'. E essa de "um subdirector sem a mais pequena capacidade para o cargo"! Mas porquê? Sinceramente...
Um dos maiores "pensadores" do cinema mundial. As suas análises eram únicas e impossiveis de imitar.
Luis: Inteiramente de acordo.
Harry Madox: Custou-me a aceitar esse lado mau, mas hoje acho-o inequivoco, parte intrinseca de um homem enorme, dos maiores que o cinema em Portugal teve. Quanto ao Mexia, a minha opiniao e essa, venha quem vier, e baseia-se em inumeros comentarios e criticas que dele li, bem como a de ver os filmes com a filiacao politica sempre em mente. Se houve quem achasse que, apesar da excelente programacao e dos textos magnificos, Benard devia sair, eu tambem posso achar que Mexia, barao moderno sem o conhecimento, nao e apropriado para o cargo, com gente como Joao Mario Grilo e Jose Manuel Costa ainda por ai.
No comentario anterior, leia-se: "bem como no facto de Mexia ver os filmes com a filiacao politica sempre em mente".
En fin, cada cual en su lugar se hace sus enemigos, y si dura peor. Pero creo que, con sus defectos, manías o errores de los que nadie nos libramos, la aportación de J.B.C. a la cultura cinematográfica y al cine portugués es envidiable. Era amigo, pero también era un modelo. Y un crítico excepcional, que jamás caía en las vulgaridades de moda ni en la machacona repetición de obviedades. Fué de los grandes cinematequeros que pude conocer, tras Langlois y Ledoux. Seguro que lo echaréis de menos.
Miguel Marías
Miguel Marias: Nao sou inimigo de Benard. Pelo contrario, sou fa dele e sempre o defendi em todas as ocasioes em que achava que ele tinha razao. Muito do que hoje temos devemo-lo a ele. E um verdadeiro insubstituivel e uma enorme influencia para mim. Os pecadilhos que ai aponto sao apenas um lado do Homem, muito superado pelo que de bom deixou. O meu texto ate e motivado por muita da preocupacao sobre o que vira depois dele. Isso e o que me assusta. A importancia, nunca ninguem lha podera tirar.
saudacoes ibericas
Caro Miguel, não encontro o teu e-mail. Se não te importares, chuta-o para cinemanotebook[at]gmail.com.
Um abraço.
Curiosamente o próprio João Mário Grilo acha que Pedro Mexia reune as condições para suceder a Bénard.
Elementar direito que lhe assiste, Harry. Como a mim me assiste considerar que Mexia nao e a pessoa certa para o trabalho.
Claro.
acho esse mexia uma péssima escolha, obviamente. uma pessoa que escreve tão mal só pode ser idiota, e, portanto, incompetente para o cargo. li partes do blog dele e alguns poemas, para chegar a esta opinião. é o cúmulo do ridículo, um gajo destes escrever seja para onde for. enfim, só num país de provincianos é que uma merda destas acontece. é revoltante, mas não me surpreende.
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