26 janeiro 2010

Sumaríssimos (9)


Zombieland levará na cabeça da maioria da crítica até ao dia em que Quentin Tarantino disser bem dele numa qualquer entrevista. História de uma família afectiva criada em pleno apocalipse de mortos-vivos nos EUA, a estreia de Ruben Fleischer na realização esconde por trás da sua alegoria de união entre seres solitários o desejo de ser o mais divertido arraial de porrada que alguma vez vimos num filme. E consegue: vísceras espalhadas, sangue vomitado, bastonadas nas trombas, um uso em elipse de um tesoura de podar sequóias, balázios nos cornos, atropelamentos, marteladas na cachimónia de um palhaço ou quedas de máquinas em parques de diversões, não há virtualmente nada que aqui esteja ausente. Retirando ao filme de zombies a carga política que George Romero lhe deu no seminal A Noite dos Mortos-Vivos (1968) e que foi seguida por Joe Dante no magnífico Homecoming (2005) da série Masters of Horror ou na metade Planet Terror de Grindhouse (2007), diferente da genial comédia Shaun of the Dead (2005) de Edgar Wright, Zombieland é o filme grunho por excelência, onde a chalaça convive com a violência e o cuidado artístico “cibernético”com o uso não muito requintado do bastão de baseball. Para o fim, no entanto, guarda-se o melhor: o extraordinário cameo de certo e determinado mito de Hollywood, também ele apostado em entrar na parvoíce e fazendo-o a custas de certa imagem “indie” cultivada nesta década. Não convém criar habituação, mas de vez em quando sabe bem ver um filme sem pensar na Política dos Autores ou no formalismo russo e ser grunho. Só um bocadinho, para não criar habituação.

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