27 março 2010

Carta Aberta a Inês Oliveira


Cara Inês Oliveira,

Em bom rigor, não sou a melhor pessoa para falar de Cinerama. Quando me dirigi ao cinema King para o ver, acompanhado que estava na sala por meia dúzia de indefectíveis do decadente espaço lisboeta, tive de recorrer ao mais profundo do meu ser para aguentar uma mísera meia hora do seu filme de estreia. O meu tempo, apesar do desemprego e da atitude fácil que tenho para com ele, é demasiado precioso para ser perdido com bailarinos esvoaçantes e actores de telenovela com pastas em cima da cabeça, num pós-modernismo de pacotilha equivalente a eu comparar os meus textos aos de Marcel Proust. Lá saí, remoendo internamente que tinha usado 30 minutos da minha vida que não mais voltariam, num caminho de auto-recriminação e desencanto. A estação de Entrecampos parecia mais longe da Avenida de Roma do que alguma vez estivera. Assim, considero legítimo pedir-lhe uma indemnização pelo agravamento da minha miopia. E pela gargantuesca quantidade de água de rosas que tive de usar para lavar os olhos depois daquilo.

Serve, então, esta carta aberta para lhe fazer apenas uma pergunta: está contente por ter dado porta aberta e carta-branca a António-Pedro Vasconcellos e ao simiesco Alberto Gonçalves para continuar a dizer o que dizem do cinema português contemporâneo? É que cada vez que encontrar algo a demonizar a nossa cinematografia, lembrar-me-ei do seu filme.

Grato pela atenção,

Miguel Domingues

23 março 2010

Parabéns, Mestre!



Das muitas grandes cenas que Kurosawa nos deu (quem não viu Ikiru e Mad Dog dê corda ao emule), talvez nenhuma seja tão bela quanto o final simbólico de Ran. E em perfeita rima mental com o momento do Rei Lear em que se fala dos nús a guiarem os cegos. A este, já ninguém o guia, tal foi o Apocalipse.

Muito obrigado, Mestre, pela melhor nota que tive num trabalho da Faculdade.

18 março 2010

Sumaríssimos (12)


O problema de Alice in Wonderland não é, como casos há muitos, de dificuldade na conjugação de universos; é o problema diametralmente oposto. O universo de Lewis Carroll, ainda que glosado pela argumentista Linda Woolverton, não fornece qualquer obstáculo a Tim Burton, que nele se movimenta com (demasiada) destreza e à-vontade. Acontece que, no meio disso e apesar do tom apocalíptico de que o País das Maravilhas aqui se reveste e do excelente desempenho de Helena Bonham Carter como Rainha Vermelha, tudo é monótono e previsível. Tal sentimento é uma novidade num cineasta que, com poucas excepções, costuma fazer sempre filmes estimulantes.

Foi também o primeiro filme que vi em 3D e pensei aquilo que já suspeitava: o interesse daquilo, para mim, é muito reduzido.

08 março 2010

Linkous RIP

Mark Linkous, dos Sparklehorse, suicidou-se ontem.

04 março 2010

E porque no Domingo há palhaçada...

... se eu quisesse saber, eram estes os vencedores que desejaria.

Melhor Filme: Inglorious Basterds
Melhor Realizador: Quentin Tarantino
Melhor Actor: Colin Firth (Ainda não vi Crazy Heart, onde dizem que Jeff Bridges está magnífico)
Melhor Actriz: Gabourey Sidibe
Melhor Actor Secundário: Christopher Waltz
Melhor Actriz Secundária: Anna Kendrick
Melhor Animação: Up
Melhor Filme Estrangeiro: Un Prophete
Melhor Argumento Adaptado: District 9
Melhor Argumento Original: Inglorious Basterds

No que concerne às escolhas possíveis, prefiro que ganhe a senhora Bigelow ao senhor Cameron.