Num festival incomparavelmente maior, como Cannes, alguém que seja enviado pela imprensa vê até cinco filmes por dia e, depois das sessões, ainda tem de enviar os textos para os jornais. O Indie funciona de forma diferente; três sessões diárias é o normal e pode haver até perto de duas horas entre o final de uma sessão e o começo da outra. Como tal há muito tempo para pensar. Para pensar em como é difícil ver tantos filmes e manter deles uma ideia coerente e profunda, na fome mundial, no que acontecerá se o Benfica perder o campeonato, na Standard & Poor's, na quantidade de tempo que passou desde que dissemos uma palavra a quem quer que fosse, no que acontecerá se o Benfica perder o campeonato, nos amigos que não ligam ou criticam as nossas escolhas, no subsídio de desemprego que expira dentro de 3 meses sem fazermos puto de ideia do que vamos fazer para pagar as contas, em como nunca moraremos no centro de Lisboa quanto mais em Nova Iorque ou Paris ou até no que acontecerá se o Benfica perder o campeonato.
Tudo isto para dizer que algum cansaço anímico remeteu-me para casa, tendo ido ao festival apenas para comprar um bilhete para a minha mulher para a sessão de amanhã e para tentar encontrar a boina preta que perdi ontem no CinemaCity e que por lá deve ter ficado. Já perdi dez ou 15 boinas e esta é a última que perco.
O raio de sol foi ter recebido a noticia de que já tenho bilhete para o Benfica-Rio Ave.