26 maio 2007
20 maio 2007
Sony 240 DX
A minha cinéfilia é indissociável das minhas cassetes de vídeo.
O meu pai, aqui há uns anos, tinha um emprego que o obrigava a percorrer largas distâncias de automóvel, que incluíam uma viagem semanal pelo sul do país. Ora, longas viagens implicam imenso consumo de gasolina, o que por sua vez, nos finais da década de 1990, gerava pontos nos cartões de uma gasolineira. Pontos esses que eu trocava, com a devida permissão paternal, por cassetes de vídeo Sony 240 DX, que ainda hoje se apoiam umas nas outras de forma absolutamente caótica no topo do meu roupeiro, cobertas por uma camada de pó que não elimino com a devida frequência.
(Permitam-me um momento para lembrar a memória das cassetes que terminaram a sua existência ou ficaram severamente mutiladas devido à queda desse mesmo topo. No primeiro caso, inclui-se a cassete que continha La Reine Margot de Patrice Chereau e New York 1997 de John Carpenter; no segundo, inclui-se a cassete onde está The Life and Death of Collonel Blimp de M. Powell e E. Pressburger. O filme dos britânicos, apesar do buraco que deixa ver a fita e de fazer imenso barulho quando é visto, ainda está visível; os outros dois grandes filmes já foram recuperados, felizmente, mas há que resgatar os antepassados das versões que agora tenho do esquecimento.)
O meu pai, aqui há uns anos, tinha um emprego que o obrigava a percorrer largas distâncias de automóvel, que incluíam uma viagem semanal pelo sul do país. Ora, longas viagens implicam imenso consumo de gasolina, o que por sua vez, nos finais da década de 1990, gerava pontos nos cartões de uma gasolineira. Pontos esses que eu trocava, com a devida permissão paternal, por cassetes de vídeo Sony 240 DX, que ainda hoje se apoiam umas nas outras de forma absolutamente caótica no topo do meu roupeiro, cobertas por uma camada de pó que não elimino com a devida frequência.
(Permitam-me um momento para lembrar a memória das cassetes que terminaram a sua existência ou ficaram severamente mutiladas devido à queda desse mesmo topo. No primeiro caso, inclui-se a cassete que continha La Reine Margot de Patrice Chereau e New York 1997 de John Carpenter; no segundo, inclui-se a cassete onde está The Life and Death of Collonel Blimp de M. Powell e E. Pressburger. O filme dos britânicos, apesar do buraco que deixa ver a fita e de fazer imenso barulho quando é visto, ainda está visível; os outros dois grandes filmes já foram recuperados, felizmente, mas há que resgatar os antepassados das versões que agora tenho do esquecimento.)
Quando o dvd chegou, fiquei contente, não apenas pelas capacidades sonoras e imagéticas que o suporte permite, como também pela maior facilidade de atingir um momento específico no fluxo de um filme. Igualmente importantes, apareceram os extras, utilíssimos pedaços de contextualização que nos aproximam da história do Cinema. Contudo, pouco tempo depois, surgiu a hipótese de copiar, com toda a simplicidade, esses mesmos dvds – o que lhes deu um ar asséptico, meramente utilitário, quase descartável – a partir desse momento, o símbolo da TDK passou a fazer parte da decoração das nossas casas de forma tão intrínseca quanto as bíblias encontradas nos quartos dos motéis norte-americanos. Actualmente, o dvd é um formato moribundo, substituído pelos motores de partilha de ficheiros e, pior, pela guerra entre o Blu-Ray e o HD-DVD, formatos que, sendo notáveis pela digitalização, pretendem apenas fazer o espectador voltar a gastar dinheiro nos filmes de que gosta. É tudo uma questão de re-embalagem.
No meio disto tudo, o que se perde? Simples: o fetichismo. O tempo de vida cada suporte é cada vez mais curto, e cada suporte tem sido progressivamente mais pequeno, até ao ponto de os mais recentes serem imateriais – o digital. A substituição possível é a “memorabilia”, cartazes, tapetes de rato, isqueiros, etc.
Não se trata de querer fazer o tempo regredir, de ter saudades ou saudosismos. Há perto de dois anos que não gravo uma cassete, até pelo preço que estas atingiram. Por outro lado, das perto de 220 cassetes que tenho, ainda há muitas que não vi, e quero fazê-lo antes que o meu vídeo dê o berro. Trata-se antes de celebrar um tempo: o tempo em que eu prezava o suporte em que os meus filmes estavam preservados.
15 maio 2007
14 maio 2007
O neo-realismo do futuro
1) Still Life é, se não me engano, a terceira obra de Jia Zhang Ke a estrear comercialmente em Portugal, depois de Plataforma (2000) e O Mundo (2004). Para mim, Still Life marca uma estreia, na medida em que ambos os outros filmes se encontram ainda a apanhar o pó da minha estante, à espera que haja tempo.
2) O cenário é a cidade de Fengji, prestes a ser submergida pela polémica Barragem das Três Gargantas, simbolo de uma China ancestral que desaparecerá para dar lugar a uma incógnita industrializada e desumanizada. Muito simples e, à maneira oriental, com imagens dolorosamente belas (a ponte que se acende no escuro ou o prédio que vemos implodir por entre um buraco na parede), é a observação das viagens de duas personagens, um homem que busca a filha e a ex-mulher e uma mulher que busca o marido traidor.
3) Comecemos pelos defeitos do filme: a sua organização interna e os extraterrestres. Por um lado há uma divisão em capítulos (alcóol, tabaco e chá), denotando hábitos da vida naquela zona, que é completamente inútil para a narrativa; por outro, a interrupção da história de Han Sanming para se concentrar em Zao Tao (Shen Hong, a mulher traída), voltando àquele antes da conclusão, não complicando o desenrolar da história, simultaneamente sentimental e cartesiano, também pouco acrescenta. Por último, aquelas aparições de OVNI's em dois momentos do filme, podendo ser simbolos de outros mundos desconhecidos pelas personagens, acabam por ser excrescências num filme bastante depurado.
4) Contudo, o mais importante aspecto que salta à vista em Still Life, aquilo que o torna realmente importante, é o seu lado documental, deambulatório. Poético e flutuante, ganha a sua razão de ser, mais do que nas histórias centrais à narrativa, nas imagens dos colegas de Han: gente curtida e moldada pelo sol e pelo trabalho, a esquecerem os seus fantasmas, trabalharem em ruínas e a darem lugar a essas mesmas ruínas, a ligarem-se ao tabaco, ao alcóol e à comida como paliativos da dor presente e da ainda por vir. Será este o neo-realismo do futuro?
5) Não vi nenhum outro filme do cineasta chinês. Este, sendo bom, não me satisfez completamente. Mas, ao vê-lo, uma expressão imediata me veio à mente: tecido contínuo, um pouco à imagem do cinema dos Dardenne. Parece ser, cada vez mais, essa a construcção do realismo no cinema moderno, em altura e não em profundidade, como se a primeira trouxesse a segunda. Só será, em princípio, possível de compreender o cinema de Jia Zhang Ke vendo-o como um conjunto, um fresco da China "a dois tempos" de que falava Deng Xiaoping. Estarei errado?
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Filmes 2007,
Impressões,
Jia Zhang Ke
09 maio 2007
You Can't Go Home Again
O que é que mudou desde que aqui anunciei uma sabática da escrita sobre Cinema? Nada. Mas a crítica dá-me tanto prazer que não consigo parar.
"You can't go home again", dizia Nicholas Ray. Este blogue será forçosamente diferente do Jeu de Massacre. Porque a minha disponibilidade mudou. Porque eu mudei. Quem quiser embarcar nesta nova viagem, ainda incerta, seja bem-vindo.
Devido ao tempo que passei sem escrever e, diga-se, reflectindo pouco nos filmes que vi, a minha escrita estará um pouco enferrujada. Se for só no princípio, é defeito. Contudo, o que se tiver ganhado ou perdido neste mês e pouco tornar-se-à feitio. A ver vamos.
E agora, siga o Cinema!
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Apresentação,
Nicholas Ray
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