20 maio 2007

Sony 240 DX






A minha cinéfilia é indissociável das minhas cassetes de vídeo.

O meu pai, aqui há uns anos, tinha um emprego que o obrigava a percorrer largas distâncias de automóvel, que incluíam uma viagem semanal pelo sul do país. Ora, longas viagens implicam imenso consumo de gasolina, o que por sua vez, nos finais da década de 1990, gerava pontos nos cartões de uma gasolineira. Pontos esses que eu trocava, com a devida permissão paternal, por cassetes de vídeo Sony 240 DX, que ainda hoje se apoiam umas nas outras de forma absolutamente caótica no topo do meu roupeiro, cobertas por uma camada de pó que não elimino com a devida frequência.

(Permitam-me um momento para lembrar a memória das cassetes que terminaram a sua existência ou ficaram severamente mutiladas devido à queda desse mesmo topo. No primeiro caso, inclui-se a cassete que continha La Reine Margot de Patrice Chereau e New York 1997 de John Carpenter; no segundo, inclui-se a cassete onde está The Life and Death of Collonel Blimp de M. Powell e E. Pressburger. O filme dos britânicos, apesar do buraco que deixa ver a fita e de fazer imenso barulho quando é visto, ainda está visível; os outros dois grandes filmes já foram recuperados, felizmente, mas há que resgatar os antepassados das versões que agora tenho do esquecimento.)

Quando o dvd chegou, fiquei contente, não apenas pelas capacidades sonoras e imagéticas que o suporte permite, como também pela maior facilidade de atingir um momento específico no fluxo de um filme. Igualmente importantes, apareceram os extras, utilíssimos pedaços de contextualização que nos aproximam da história do Cinema. Contudo, pouco tempo depois, surgiu a hipótese de copiar, com toda a simplicidade, esses mesmos dvds – o que lhes deu um ar asséptico, meramente utilitário, quase descartável – a partir desse momento, o símbolo da TDK passou a fazer parte da decoração das nossas casas de forma tão intrínseca quanto as bíblias encontradas nos quartos dos motéis norte-americanos. Actualmente, o dvd é um formato moribundo, substituído pelos motores de partilha de ficheiros e, pior, pela guerra entre o Blu-Ray e o HD-DVD, formatos que, sendo notáveis pela digitalização, pretendem apenas fazer o espectador voltar a gastar dinheiro nos filmes de que gosta. É tudo uma questão de re-embalagem.

No meio disto tudo, o que se perde? Simples: o fetichismo. O tempo de vida cada suporte é cada vez mais curto, e cada suporte tem sido progressivamente mais pequeno, até ao ponto de os mais recentes serem imateriais – o digital. A substituição possível é a “memorabilia”, cartazes, tapetes de rato, isqueiros, etc.

Não se trata de querer fazer o tempo regredir, de ter saudades ou saudosismos. Há perto de dois anos que não gravo uma cassete, até pelo preço que estas atingiram. Por outro lado, das perto de 220 cassetes que tenho, ainda há muitas que não vi, e quero fazê-lo antes que o meu vídeo dê o berro. Trata-se antes de celebrar um tempo: o tempo em que eu prezava o suporte em que os meus filmes estavam preservados.

12 comentários:

Ursdens disse...

Eheh! Boas memórias me deixam essas cassetes... Ainda anteontem revi o trainspotting em vhs!

Mas é como dizes, é quase um fetiche... Os filmes que tenho em vhs são mais de 500 e não penso adquirir esses filmes em dvd ou qualquer outro formato...

Neste momento o vhs está para os cinéfilos quase como o vinil para os melómanos... curioso...

...Bom era ter uma bela colecção de películas! :P

Cumprimentos cinéfilos!

Daniel Pereira disse...

Ainda somos alguns a utilizar o VHS.

C. disse...

Ainda tenho alguns, mas já substitui a maioria dos filmes por DVD. Gosto do objecto que carrega consigo grandes memórias da minha primeira cinefilia. Aqueles tempos de videoclube (deixei de ter o hábito), de estar atenta aos intervalos enquanto gravava os filmes da TV, de fazer as minhas próprias videocapas :)

Ah, nostalgia!

Ursdens disse...

eheh... aquela doença de cortar no intervalo era, de facto, um tanto ou quanto patológica...

Ricardo Martins disse...

Ao contrário do wasted blues e do urdens, eu não cortava os intervalos, metia logo no temporizador para não perder tempo a ver publicidade.

Acrescento também que não substitui TODOS os meus vhs por dvds, por: 1º já não ter paciência para isso, 2º só fazer isso com os meus favoritos entre favoritos, 3º não ter dinheiro para recomeçar tudo de repente

Também não entendo como é que se compra tantos dvd's neste país tendo em conta que os preços são tão altos, mesmo em promoção. Os preços ditos "verdes" da Fnac são uma vergonha, e não estão à medida da bolsa dos portugueses.

Nuno disse...

Não tenho nenhuma nostalgia deste formato, cuja qualidade visual é mesmo má. Quando apareceram os DVDs fiquei maravilhado, não só pela qualidade mas também um pormenor bastante importante: em França, a maioria das VHS estavam em versão francesa (audio), o que detestava. A possibilidade de ver um filme em V.O. e com as legendas que queremos foi uma pequena revolução para mim!

C. disse...

"Também não entendo como é que se compra tantos dvd's neste país tendo em conta que os preços são tão altos, mesmo em promoção."

O mundo é maior do que Portugal e a Fnac! ;)

Daniel Pereira disse...

Ó Nuno, ninguém está a falar em VHS originais :P

Bracken disse...

Bom, engraçado, engraçado, vai ser quando entrarmos na onda saudosista do DVD. "Lembram-se daqueles discos, com um buraco no meio e uma cor meio aureolada? Xiii, aquilo era gigante e a imagem, então, uma autêntica porcaria!". :)
Abraço,
Bracken

Nuno disse...

Pois Daniel, mas os filmes também costumam passar dobrados na TV francesa!

Daniel Pereira disse...

Foi a forma de veres mais filmes em sala, provavelmente, Nuno.

Pedro Duarte disse...

Os novos formatos DVD surgem devido às novas altas resoluções das TVs de plasma (ou LCD ou q raio lhes chamam) q exigem maior resolução e qualidade que o MPEG2 (do DVD) oferece. E claro está, mais $ para a $ony e companhia.