O sargento Nicholas Angel sempre quis ser policia. Estudou, preparou-se, ficou ferido na linha do dever (esfaqueado na mão por um Pai Natal…) e bateu todos os recordes de detenções e condecorações. A paga que recebeu foi ser transferido de Londres para Sanford, a aldeia-modelo britânica, onde não poderá envergonhar os colegas metropolitanos com a sua competência devido à mais baixa taxa de criminalidade do país. Acontece que Angel irá descobrir que se calhar se esconde um submundo tenebroso por baixo daquela pacatez bucólica e o quão estranho é uma cidade ter tamanha taxa de acidentes...
Hot Fuzz, realizado em 2007 por Edgar Wright e escrito a meias entre o realizador e o actor principal Simon Pegg é a melhor comédia que vi em muito tempo, um belíssimo misto de sátira à ruralidade (e com momentos a lembrar a excelente série League of Gentlemen) e de homenagem à tradição norte-americana de buddy movies de acção (são citados Bad Boys II e o genial Point Break de Kathryn Bigelow). Inspirado no mito cinematográfico do super-polícia obcecado pelo trabalho, incapaz de desligar e que é posto ao lado de um parceiro inapto e usando um humor a um tempo situacional (o genial gag do cisne, com a participação de Stephen Merchant) é um cadinho de referências pop (da escolha da música ao explosivo final em modo western misto de Peckinpah e Leone) ao mesmo tempo que um thriller policial excepcionalmente destro, capaz de belíssimas sequências de acção e de incorporar, de forma séria e inteligente, todos os códigos de um género marcadamente americano num todo distintamente britânico – atente-se na escolha do "Village Green Preservation Society" dos The Kinks e a forma como o filme trata o difícil equilíbrio entre a necessidade de preservar a ruralidade e os perigos do fundamentalismo campestre…
Se Hot Fuzz é assim tão inteligente no argumento, é-o também porque a ele se equivale toda uma ideia estética, muito bem posta em prática por Edgar Wright. Os tons queimados, cheios de tons laranja, característicos dos filmes de Michael Bay ou de séries como CSI Miami são profusamente utilizados, a montagem é propositadamente rápida e cheia de inserts e há até espaços para o gore, com a genial morte do jornalista sob o peso da torre de uma igreja, tudo ancorado num modo de fazer humor visual ancorado nos raccords – lembremos quando Pegg pede “deccafeinated” e logo a seguir vemos duas personagens “decapitated”. Sobretudo, se é sempre uma comédia muito bem esgalhada, é na última meia hora que o filme se distingue de toda a concorrência, fechando todas as pontas num círculo perfeito e tornando-se menos a história do super-polícia do que a do tosco rural que tem de se separar da influência negativa do pai – genial o plano de Nick Frost a disparar para o ar em rima perfeita com o plano de Keanu Reeves em Point Break – e provar o seu próprio valor. Em suma, Hot Fuzz faz aquilo que todas as comédias americanas actuais tentam fazer e não conseguem: a dada altura, afasta-se da galhofice e faz-nos preocupar com aquelas pessoas, com aquele local e com o desenlace da história. Ainda não vi Shaun of the Dead (2004), mas na década que passou não vi comédia assim. Consultem a programação do Canal Hollywood e, se ele voltar a passar, não o percam.
Hot Fuzz, realizado em 2007 por Edgar Wright e escrito a meias entre o realizador e o actor principal Simon Pegg é a melhor comédia que vi em muito tempo, um belíssimo misto de sátira à ruralidade (e com momentos a lembrar a excelente série League of Gentlemen) e de homenagem à tradição norte-americana de buddy movies de acção (são citados Bad Boys II e o genial Point Break de Kathryn Bigelow). Inspirado no mito cinematográfico do super-polícia obcecado pelo trabalho, incapaz de desligar e que é posto ao lado de um parceiro inapto e usando um humor a um tempo situacional (o genial gag do cisne, com a participação de Stephen Merchant) é um cadinho de referências pop (da escolha da música ao explosivo final em modo western misto de Peckinpah e Leone) ao mesmo tempo que um thriller policial excepcionalmente destro, capaz de belíssimas sequências de acção e de incorporar, de forma séria e inteligente, todos os códigos de um género marcadamente americano num todo distintamente britânico – atente-se na escolha do "Village Green Preservation Society" dos The Kinks e a forma como o filme trata o difícil equilíbrio entre a necessidade de preservar a ruralidade e os perigos do fundamentalismo campestre…
Se Hot Fuzz é assim tão inteligente no argumento, é-o também porque a ele se equivale toda uma ideia estética, muito bem posta em prática por Edgar Wright. Os tons queimados, cheios de tons laranja, característicos dos filmes de Michael Bay ou de séries como CSI Miami são profusamente utilizados, a montagem é propositadamente rápida e cheia de inserts e há até espaços para o gore, com a genial morte do jornalista sob o peso da torre de uma igreja, tudo ancorado num modo de fazer humor visual ancorado nos raccords – lembremos quando Pegg pede “deccafeinated” e logo a seguir vemos duas personagens “decapitated”. Sobretudo, se é sempre uma comédia muito bem esgalhada, é na última meia hora que o filme se distingue de toda a concorrência, fechando todas as pontas num círculo perfeito e tornando-se menos a história do super-polícia do que a do tosco rural que tem de se separar da influência negativa do pai – genial o plano de Nick Frost a disparar para o ar em rima perfeita com o plano de Keanu Reeves em Point Break – e provar o seu próprio valor. Em suma, Hot Fuzz faz aquilo que todas as comédias americanas actuais tentam fazer e não conseguem: a dada altura, afasta-se da galhofice e faz-nos preocupar com aquelas pessoas, com aquele local e com o desenlace da história. Ainda não vi Shaun of the Dead (2004), mas na década que passou não vi comédia assim. Consultem a programação do Canal Hollywood e, se ele voltar a passar, não o percam.
2 comentários:
Também ainda não vi o Shaun of the Dead (vi o Scott Pilgrim, que também é catita), mas Hot Fuzz é delicioso em muitos níveis que, como referes, vão da escrita à realização e ao timing dos actores. Também gosto imenso do sentido de humor muito peculiar do Pegg, que conheci há uns anos por mero acaso quando apanhei uns episódios de Spaced na Sic Radical.
Não vi o Spaced e tenho pena que essa indústria da repetição que é a Sic Radical (raio de nome!) ainda não a tenha reciclado. Quanto ao Scott Pilgrim, já cá está, é só ver.
Abraço
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