Depois de uma revisão recente de The New World, sinto-me
mais clarividente na enumeração do que não gosto na obra recente de Terence
Mallick:
i)
Voz Off: separando som e imagem de modo a criar uma
totalidade fílmica, o uso de monólogo interior por Mallick não só é discutível
enquanto principal método de progressão narrativa, como é cansativo na sua
utilização permanente. Pior, o mais das vezes estas vozes exprimem-se num
cansativo tom poético, enjoativo e meloso, que dificulta em muito o
visionamento dos filmes.
ii) Paganismo: para Mallick, a Natureza é uma totalidade,
com as suas próprias regras e componentes, amiúde um mistério para os seres
humanos que a habitam. Até aí tudo bem, não fosse isso resultar numa imagética
repetitiva, as árvores em contra-picado, a luz que perpassa as florestas e as
aves exóticas, como que mostrando o milagre da criação terrena através da sua
estética cinematográfica. O que faz dos seus filmes deambulações constantes, o
que em The New World até faz sentido mas que, por exemplo em The Tree of Life,
resvala para a patetice cosmogénica dos dinossauros e do final feérico (e quão
melhor seria essa obra se se cingisse à história central da família de Brad
Pitt e Jessica Chastain). É todo um imaginário a derrapar em direcção ao New
Age e que, sinceramente, não me agrada.
iii)
Poesia: O meu principal problema com o cinema de
Mallick, bem vistas as coisas, não é tanto do cineasta quanto meu. Para o bem e
para o mal, no cinema como na literatura, sempre preferi a prosa à poesia. E o
cinema de Mallick, através dos dois aspectos anteriormente referidos, fica
sempre enredado numa nuvem poética, formal e narrativa, e que ainda mais está,
neste preciso momento, numa fase previsível. Quando se vê um filme de Mallick,
já se sabe que a câmara vai andar a esvoaçar por ali, que as personagens vão
intercalar a narração do filme num tom de voz vaixo e confessional em off e que
haverá meia-dúzia de planos a mostrar o lado misterioso da existência humana. Quando
penso em Mallick, e apesar de reconhecer a enorme beleza das imagens que cria,
penso sobretudo em Badlands (1973), seco, pequeno e direito ao assunto. Em
suma, dos filmes que vi de Mallick até hoje o único que é em prosa.
4 comentários:
Corajosa "confissão"... :) Só por isso, este post merece os meus parabéns.
Embora não concorde com a tua visão sobre o cinema de Malick — a poesia, pela ambição e originalidade que traz à Sétima Arte, é precisamente um dos aspectos que mais aprecio no cineasta —, entendo e respeito por completo os argumentos apresentados.
Cumps cinéfilos.
Obg :)
Também não concordo e acho que o Badlands, para usar a tua definição, só parecerá prosa em comparação com os outros, mas não deixa de ser a mesma ideia. Percebo, mas este tipo de cinema não deixa de me fascinar. Abraço
Não gostas de Mallick? I'm surprised.
Anyway, bom texto "do contra".
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