01 abril 2012

As 3 coisas de que não gosto em Terrence Mallick



Depois de uma revisão recente de The New World, sinto-me mais clarividente na enumeração do que não gosto na obra recente de Terence Mallick:

i)                    Voz Off: separando som e imagem de modo a criar uma totalidade fílmica, o uso de monólogo interior por Mallick não só é discutível enquanto principal método de progressão narrativa, como é cansativo na sua utilização permanente. Pior, o mais das vezes estas vozes exprimem-se num cansativo tom poético, enjoativo e meloso, que dificulta em muito o visionamento dos filmes.

ii)         Paganismo: para Mallick, a Natureza é uma totalidade, com as suas próprias regras e componentes, amiúde um mistério para os seres humanos que a habitam. Até aí tudo bem, não fosse isso resultar numa imagética repetitiva, as árvores em contra-picado, a luz que perpassa as florestas e as aves exóticas, como que mostrando o milagre da criação terrena através da sua estética cinematográfica. O que faz dos seus filmes deambulações constantes, o que em The New World até faz sentido mas que, por exemplo em The Tree of Life, resvala para a patetice cosmogénica dos dinossauros e do final feérico (e quão melhor seria essa obra se se cingisse à história central da família de Brad Pitt e Jessica Chastain). É todo um imaginário a derrapar em direcção ao New Age e que, sinceramente, não me agrada.

iii)                Poesia: O meu principal problema com o cinema de Mallick, bem vistas as coisas, não é tanto do cineasta quanto meu. Para o bem e para o mal, no cinema como na literatura, sempre preferi a prosa à poesia. E o cinema de Mallick, através dos dois aspectos anteriormente referidos, fica sempre enredado numa nuvem poética, formal e narrativa, e que ainda mais está, neste preciso momento, numa fase previsível. Quando se vê um filme de Mallick, já se sabe que a câmara vai andar a esvoaçar por ali, que as personagens vão intercalar a narração do filme num tom de voz vaixo e confessional em off e que haverá meia-dúzia de planos a mostrar o lado misterioso da existência humana. Quando penso em Mallick, e apesar de reconhecer a enorme beleza das imagens que cria, penso sobretudo em Badlands (1973), seco, pequeno e direito ao assunto. Em suma, dos filmes que vi de Mallick até hoje o único que é em prosa.  

4 comentários:

Sam disse...

Corajosa "confissão"... :) Só por isso, este post merece os meus parabéns.

Embora não concorde com a tua visão sobre o cinema de Malick — a poesia, pela ambição e originalidade que traz à Sétima Arte, é precisamente um dos aspectos que mais aprecio no cineasta —, entendo e respeito por completo os argumentos apresentados.

Cumps cinéfilos.

Miguel Domingues disse...

Obg :)

O Narrador Subjectivo disse...

Também não concordo e acho que o Badlands, para usar a tua definição, só parecerá prosa em comparação com os outros, mas não deixa de ser a mesma ideia. Percebo, mas este tipo de cinema não deixa de me fascinar. Abraço

Ricardo disse...

Não gostas de Mallick? I'm surprised.

Anyway, bom texto "do contra".