19 abril 2012

Autobiografia de Nicolae Ceausescu (Andrei Ujica, 2010)


Autobiografia de Nicolae Ceausescu é o tipo de filme que temos vindo a ver mais nos últimos tempos. Em primeiro lugar, porque o estimulante novo cinema romeno, com uma ou outra excepção (por onde anda Politist Adjectiv de Corneliu Porumboiu?) tem sido devidamente acompanhado em Portugal. Em segundo lugar, porque a democratização das imagens de arquivo leva a que diversos realizadores se debrucem sobre o passado (ou o presente) através de imagens anteriores. Aliás, há um paralelismo claro que se pode fazer com o cinema nacional: também o filme de Andrei Ujica, feito a partir de mais de mil horas de imagens de arquivo que percorrem os 24 anos de liderança do país por Ceausescu e a sua trupe, é uma fantasia romena, mostrando exemplarmente a narrativa que aquele regime quis construir sobre si mesmo, a de um país que escolheu um rumo progressista, científico e racional e que estava de bem com o caminho escolhido. Não era essa a realidade, evidentemente, mas Autobiografia de Nicolae Ceausescu é um filme sem contracampo, dispensando mesmo qualquer contextualização do que vai sendo visto. Se a duração do filme (quase três horas) o torna numa experiência difícil, não deixa de ser verdade que é essa duração que possibilita a existência de um fio condutor óbvio, nomeadamente no modo como aquele regime, a cada sequência, se torna mais vazio e mais decrépito. Em suma, um belíssimo documentário originário de um país que, como nenhum outro em tempos recentes, tem utilizado sabiamente o cinema como meio de tratamento do seu passado recente.   

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