Numa belíssima cena de 30 Rock, Tina Fey, num encontro
amoroso com Wayne Brady, dizia, com uma frontalidade cómica de tão
despropositada: “Há qualquer coisa em ti de que eu pura e simplesmente não
gosto”. É o que digo deste Le Conseguenze dell'Amore, primeiro filme do
italiano Paolo Sorrentino a estrear em Portugal, narrativa sobre o vazio
existencial de um financeiro preso pela Máfia numa cidade suiça onde deposita
os milhões lavados pela Cosa Nostra, vivendo um degredo onde todos os dias se
imitam, longos, despojados e empobrecedores, até conhecer uma jovem por quem se
enamora. Enquanto nos concentramos na maneira como o protagonista Tita di
Girolamo gere esta situação (recorrendo à companhia de um casal que que perdeu
o hotel ao jogo e a uma dose semanal de heroína, tudo corre razoavelmente bem. O
problema reside na maneira de filmar de Sorrentino, barroca, berrante, querendo
demonstrar a cada imagem o seu virtuosismo, tendência que se agudiza à medida que o filme avança. O que consegue é um filme que se
assemelha a um videoclip de duas horas, um pedaço sofisticado de filmagem onde
tanta pretensa modernidade, tanto ângulo de câmara esquizóide e tanto corte na
montagem são cansativos e vaidosos. Salva-se a cena final, onde à paralisia na
vida de di Girolamo se sucede outra, bem mais real e bem mais irrecuperável. Não
chega aos niveis de grotesco do posterior Il Divo (2008), mas também não é grande
espingarda.
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