A pior parte de se ter dois empregos é precisamente a mais óbvia: o cansaço. Acumulado, mais do que doloroso, é paralisante. E os dias sucedem-se, monótonos e taciturnos, com o corpo pesado e tolhido de movimentos.
Na passada segunda-feira, desloquei-me à Cinemateca para ver Eve (1962) de Joseph Losey. À entrada, encontrei o Daniel, que me disse não ir ver A Segunda Geração de R. W. Fassbinder, precisamente com medo de adormecer devido ao cansaço.
Eve pareceu-me ser, cinematograficamente, um desastre. Rodado em Itália, já Losey se havia exilado após ter recusado comparecer perante a corja do senador McCarthy, foi amputado de 155 para 105 minutos. Barroco e excessivo, é uma variação da eterna história de perdição de um homem às mãos de uma mulher leviana e interesseira (Jeanne Moreau), de interesse reduzido nesta versão, pelo carácter confuso e fragmentado da narrativa.
E mais não sei dizer. Adormeci a meio da sessão. Não estava a gostar do filme, mas no final do filme estava incrivelmente frustrado. Afinal, paguei dois euros para fazer algo que todas as noites faço de borla em casa.