25 outubro 2007

Requiem


Nos últimos dias, dois blogues importantes fecharam as portas. O Nuno e o Francisco puseram fim, respectivamente, ao Chroniques de Lisbonne e ao Pasmos Filtrados.

A saída do Nuno não me choca. Tenho cada vez mais vontade de o deixar de ler e de passar antes a ver os filmes dele – coisa que ainda não tive oportunidade de fazer. E sei que, sempre que a Cinemateca exibir um clássico imperdível ou, sobretudo, um filme japonês, ele lá estará, no centro da terceira fila.

O Francisco nunca vi pessoalmente e nem sempre li os seus textos, que me pareciam amiúde demasiado extensos. Contudo, quando li (e foram muitas vezes), algo me saltou à vista: goste-se ou não, tinha o estilo dele e não pedia desculpa por o ter. Foi, durante muito tempo, uma voz própria na blogoesfera e tem que se lhe dar todo o mérito por isso.

O que motiva este post não é só o requiem por dois blogues. O ponto principal está no seguinte comentário da Cláudia ao post de despedida do Francisco:

“É notória a falta de energia que se observa nos blogs hoje em dia, poucas visitas, poucos ou nenhuns comentários, muitos (demasiados) fechar de portas...”

Têm entrado vozes interessantes (o Ursdens, o Luís Alves, o José Quintela Soares, etc.), é certo, mas pouco para o que uma blogoesfera cinéfila portuguesa poderia ser. E o pior é a forma como as coisas mudaram: eu e o Hugo temos menos tempo do que antigamente para escrever; o Daniel lá vai publicando, mas nem sempre textos cinéfilos, tendo muitos (embora nunca demasiados) interlúdios musicais e benfiquistas. O que tem, em larga medida, mantido o nível da blogoesfera cinéfila nacional é a centrifugação cinéfila da Cláudia, a bulimia fílmica da Helena e as diversas granadas do Tiago. De resto, andamos todos um pouco zombies.

Eu, por mim, já pouco me importo. Dificilmente a minha vida profissional passará pelo cinema e tentar ser jornalista já é trabalho de sobra. Talvez o principal problema seja que a Arte, a Cultura e o discurso crítico são mercados de trabalho muito complicados e a celulóide é um pouco indigesta. Mas custa-me perceber que o sonho da blogoesfera cinéfila ser um local vibrante de discussão, alternativa/porta de entrada (riscar o que não interessa) à crítica publicada e hobby principal de muito boa gente tenha durado seis meses (seis semanas?) em cada um de nós. Ou, pior, que esse sonho tenha existido apenas na minha cabeça.

Que se f*d* a taça.

PS - Coincidentemente, estes dois finais seguem-se a textos contra os respectivos autores na nova atracção da blogoesfera – atenção, atracção, da mesma maneira que as doninhas o são num jardim zoológico: achamos engraçado vê-las, mas o cheiro não deixa de ser pestilento. Espero que seja mera coincidência, pois gente desta não merece grande importância.