Jorge Cramez podia estar, em 2007, na mesma posição em que estão Pedro Costa e Teresa Villaverde: nome cimeiro de uma cinematografia moderna e pertinente. As oportunidades, a falta de subsídios ou a escolha pessoal (não sei qual dos três) terão conspirado para o fazer chegar ao limiar dos 50 anos com uma longa carreira de assistente de realização (no Adão e Eva de Joaquim Leitão, por exemplo) e com apenas uma mão-cheia de curtas-metragens. Contudo, em boa hora chegou à longa, pois O Capacete Dourado é, juntamente com Rapace de João Nicolau e com Alice de Marco Martins, um sinal de ares frescos a percorrer o cinema português.
Vincadamente inspirado num imaginário americano de rebeldia adolescente (onde o Rebel Without a Cause de Nicholas Ray é influência óbvia), O Capacete Dourado impressiona pelo fulgurante talento visual do seu autor. Com uma intriga rudimentar, diálogos mínimos e, o mais das vezes, pouco importantes, o lado efervescente deste belo filme passa pelo seu sentido impressionista (a sequência de Jota e Margarida na barragem) e pelo cuidadíssimo sublinhar musical do que se vê (a extraordinária cena da festa de aniversário de Jota, ao som do Ocean Rain dos Echo & the Bunnymen). Filme sobre a vontade indomável de ar fresco e que, como todos os melhores desse tipo de filmes, que se passa principalmente nos momentos em que nada acontece, não pede qualquer empréstimo social. Por outras palavras, é irremediavelmente actual, sem querer documentar ou analisar costumes ou estratos. Abstracto e rarefeito, tem também nos corpos de Eduardo Frazão, Ana Moreira (o primeiro plano em que aparece é avassalador) e Rogério Samora a perfeita personificação das suas ideias.
Que Cramez queira filmar muitas e muitas vezes. E que Cramez, Nicolau e Martins possam ser um novo Cinema Novo.
Bem precisamos.
Vincadamente inspirado num imaginário americano de rebeldia adolescente (onde o Rebel Without a Cause de Nicholas Ray é influência óbvia), O Capacete Dourado impressiona pelo fulgurante talento visual do seu autor. Com uma intriga rudimentar, diálogos mínimos e, o mais das vezes, pouco importantes, o lado efervescente deste belo filme passa pelo seu sentido impressionista (a sequência de Jota e Margarida na barragem) e pelo cuidadíssimo sublinhar musical do que se vê (a extraordinária cena da festa de aniversário de Jota, ao som do Ocean Rain dos Echo & the Bunnymen). Filme sobre a vontade indomável de ar fresco e que, como todos os melhores desse tipo de filmes, que se passa principalmente nos momentos em que nada acontece, não pede qualquer empréstimo social. Por outras palavras, é irremediavelmente actual, sem querer documentar ou analisar costumes ou estratos. Abstracto e rarefeito, tem também nos corpos de Eduardo Frazão, Ana Moreira (o primeiro plano em que aparece é avassalador) e Rogério Samora a perfeita personificação das suas ideias.
Que Cramez queira filmar muitas e muitas vezes. E que Cramez, Nicolau e Martins possam ser um novo Cinema Novo.
Bem precisamos.