06 julho 2009

Portugal 2009


1) Maria João Pires quer deixar de ser portuguesa. Motivo: queria fazer um projecto de interesse cultural e público na sua terra e apoios nem vê-los. Um dos membros de um famoso grupo de meninos reguilas (de direita, claro está) já disse que a pianista se podia ter prostituído para ganhar os fundos necessários. Logicamente, o argumento nem merece resposta. Mas o meu amigo Tiago Tejo, lusitano convicto e alguém cuja pátria é a lingua e a cultura portuguesa, num conjunto de emails culturais que manda de vez em quando, criticou assim:


Há quem ache isto lindo, quase poético. Eu não. É certo que pode não ser tão bem tratada quanto o merece, mas é dum país que se está a falar. Não é do espelho que não reflecte aquilo que queremos ver nele. Um país é um misto de pais e filhos e de nenhum, por pior que possa ser, se deixa, verdadeiramente, de ser filho ou pai algum dia.

Eu discordo. Um país, mais do que um conjunto de país e filhos (que também é indiscutivelmente) é toda uma série de factores que vemos e vivemos dia a dia. É o preço da gasolina e as empresas que o combinam entre si; é as escolas com más condições e os canais de televisão boçalizantes; é as empresas que fecham e os centros de emprego cheios; é o salário mínimo de 450 euros e a percentagem do pagamento que se deixa no banco e no supermercado; é uma pessoa querer-se entreter e viver em desertos; é corruptos nortenhos como exemplo de bom dirigismo desportivo e off-shores de conselheiros de Estados; é o mar de cunhas com que vemos antigos conhecidos subirem na vida; é uma bela bandeira e alguns excelentes escritores que pouco alteram o sufoco geral. Por mim, Maria João Pires fez bem, como o fazem os óptimos cientistas que desbandam regularmente por só se depararem com governantes preocupados com o défice. Agora numa coisa tem o Tejo tem razão: podemos largar o país, mas estou convencido que quem for levará sempre o país atrás. Este tem uma maneira insidiosa de perdurar, como o fedor das sardinhas assadas nas pontas dos dedos.


2) Miguel Sousa Tavares também quer ir viver para o Brasil. E o caso não poderia ser mais diferente: goste-se ou não de Maria João Pires, é internacionalmente reconhecida e, ao que me dizem, talentosa no que faz. Já Sousa Tavares é um daqueles livres pensadores de barriga cheia e casa na Lapa, suposto farol de intelligentsia e seriedade (menos no desporto, claro está) conhecedor do paraíso que isto podia ser se apenas todos o seguíssemos em direcção ao pôr-do-sol. Uma espécie de Pacheco Pereira portista, por assim dizer, igual a muitas luminárias que andam por aí. Não sei se serei o único, mas se o venerando comentador precisar de ajuda financeira para o bilhete estou disposto a contribuir com cem euros.

3 comentários:

P.Teixeira disse...

Para mim qualquer português pelintra que só sabe estar de mão estendida devia mudar de nacionalidade, e o mais cedo possivel. Até os "supostos" intelectuais e artistas do nosso País estão sempre à espera do subsidio, ainda falam dos outros...o nosso País realmente não anda nada bem, mas é por nossa culpa, e por excesso de gente deste calibre...Ser-se português é um estado de alma, não se escolhe. Gente desta não faz falta...Devia era ter nascido num País como a Etiopia ou o Afeganistão para saber o que é lutar pela vida. Um Pais não se desenvolve sozinho, mas sim com o esforço e trabalho do seu povo. Falar mal de tudo e de todos é facil, mas fazer alguma coisa de útil, é que já não é para todos...Esta gente é ridicula..Como diz o outro: "VÃO MAS É TRABALHAR, OH...!"

Miguel Domingues disse...

Patricia, recomendo uma pesquisa sobre o caso MJP: ela até queria fazer alguma coisa de útil pelo país e pelo interior, que bem precisa. A pergunta que se deve fazer, neste e noutros casos, é a quem é que não interessa que isto avance...

Dylan disse...

Deixem ir o MST para o Brasil. Pode ser que encontre algum estivador de Almada que lhe afague o cachaço...!