Dos filmes de John McTiernan, prefiro Predator (1987), Die Hard (1988, que filme do catano!) e, sobretudo, The Last Action Hero (1993), dos melhores exercícios de mise-en-abime da década de 1990. Mas nunca tinha prestado a devida atenção a este magnífico Hunt for Red October (1990), talvez porque tantas vezes passou na televisão que pensei haver sempre outra oportunidade de o ver. Houve e em boa hora, pois dos filmes feitos aquando do final da Guerra Fria, o de McTiernan não apenas é o que tem o substracto mais subtil como o que lhe adiciona um maior cuidado e interesse estéticos.
Comecemos pelo lado político. Ao contrário de outros filmes que têm na propaganda o seu fulcro (veja-se o horroroso The House of Russia de Fred Schepsi, 1991), o de McTiernan consegue desenhar a ideia da superioridade ocidental em apenas duas sequências, cada uma com mais tacto do que a outra: a conversa entre Sean Connery e Sam Neill nos aposentos do comandante, onde o sonho da liberdade é enumerado com tacto e descrição; e a conversa final entre Connery e Alec Baldwin, onde são frisadas as semelhanças mais do que as diferenças. E, parecendo que não, este ponto é importante. Porque é o que o localiza em pleno estertor final da referida guerra, quando já não era necessário o fulgor propagandístico mas antes a aproximação. De certo modo, apesar dos seus inequívocos bons e maus, ao longo deste filme quase conseguimos ver Reagan passear com Gorbatchev na Praça Vermelha. Num filme onde o espectro da guerra nuclear paira sempre, é obra.
John McTiernan, ao contrário de um James Cameron, que sabe escolher quando ser clássico (Titanic, etc) e quando ser moderno ou pós-moderno (o novo Avatar, espera-se), é uma perfeita mescla de ambas as hipóteses. Por um lado, no rigor dos planos, na linearidade no bullshit do filme, no seu classicismo apenas entrecortado pelos cibernéticos indicadores de hora e local, quase que é um filme que se poderia imaginar noutras eras. Tudo isto em claro ambiente pipoqueiro, de blockbuster típico dos pós-76, com um orçamento confortabilíssimo e com elenco cheio de nomes reconhecíveis (Connery, Baldwin, Neill, James Earl Jones, Scott Glenn ou Stellan Skarsgaard), onde é óbvio que o espectáculo é a principal motivação. Mas o espectáculo... pouco tem de explosivo. Com a excepção da fabulosa acoplagem do helicóptero ao submarino e apesar do tom grandioso que empresta à sua progressão e filmagem, ... Red October mais não é do que um jogo do gato e do rato estendido para duas horas e um quarto, onde o interesse reside mais na gestão dos encontros e desencontros, dificuldades técnicas e relação entre a ordem política e o desempenho militar que um filme de confrontação, na constante expectativa de um encontro que parece inevitável. Como resume brilhantemente a personagem de Sean Connery, é “uma guerra sem guerra” e o filme sabe mostrá-lo.
E quando o encontro chega, é magnífico. As melhores cenas do filme, aliás, dão-se na última meia-hora. Primeiro, quando os militares americanos e o analista da CIA entram no submarino russo. Apesar de absolutamente equivalente, esse encontro é dado como se fosse um encontro entre humanos e alienígenas, em posições inter-mutáveis. Há uma brilhante tensão, em constante crescimento nos seus passos titubeantes apesar do respeito pelo protocolo militar, gerida magníficamente por McTiernan, que contamina o momento. E, finalmente, o belíssimo combate entre o submarino russo extraviado e o “oficial”, que coloca uma hipótese estimulante: e se Hunt for Red October fosse, afinal, um swashbuckler entre submarinos? Fazia todo o sentido e só contibuía para o fascínio que exerce.
Como os outros filmes que McTiernan fez entre 1985 e 1995 e aos quais se pode juntar o muito razoável Basic (2003), Hunt for Red October só faz lamentar que a carreira de McTiernan tenha sofrido os empecilhos que sofreu por parte dos estúdios, com especial enfase para os problemas que resultaram nos cortes e no descrédito de The 13th Warrior (1999) e Rollerball (2002) – falamos de um cineasta com apenas 11 filmes em 22 anos e que não filma desde 2003. Afinal de contas, era disto que se devia falar quando se fala de thriller político, filme de acção ou blockbuster. A ser visto pelos produtores da saga Bourne.
Comecemos pelo lado político. Ao contrário de outros filmes que têm na propaganda o seu fulcro (veja-se o horroroso The House of Russia de Fred Schepsi, 1991), o de McTiernan consegue desenhar a ideia da superioridade ocidental em apenas duas sequências, cada uma com mais tacto do que a outra: a conversa entre Sean Connery e Sam Neill nos aposentos do comandante, onde o sonho da liberdade é enumerado com tacto e descrição; e a conversa final entre Connery e Alec Baldwin, onde são frisadas as semelhanças mais do que as diferenças. E, parecendo que não, este ponto é importante. Porque é o que o localiza em pleno estertor final da referida guerra, quando já não era necessário o fulgor propagandístico mas antes a aproximação. De certo modo, apesar dos seus inequívocos bons e maus, ao longo deste filme quase conseguimos ver Reagan passear com Gorbatchev na Praça Vermelha. Num filme onde o espectro da guerra nuclear paira sempre, é obra.
John McTiernan, ao contrário de um James Cameron, que sabe escolher quando ser clássico (Titanic, etc) e quando ser moderno ou pós-moderno (o novo Avatar, espera-se), é uma perfeita mescla de ambas as hipóteses. Por um lado, no rigor dos planos, na linearidade no bullshit do filme, no seu classicismo apenas entrecortado pelos cibernéticos indicadores de hora e local, quase que é um filme que se poderia imaginar noutras eras. Tudo isto em claro ambiente pipoqueiro, de blockbuster típico dos pós-76, com um orçamento confortabilíssimo e com elenco cheio de nomes reconhecíveis (Connery, Baldwin, Neill, James Earl Jones, Scott Glenn ou Stellan Skarsgaard), onde é óbvio que o espectáculo é a principal motivação. Mas o espectáculo... pouco tem de explosivo. Com a excepção da fabulosa acoplagem do helicóptero ao submarino e apesar do tom grandioso que empresta à sua progressão e filmagem, ... Red October mais não é do que um jogo do gato e do rato estendido para duas horas e um quarto, onde o interesse reside mais na gestão dos encontros e desencontros, dificuldades técnicas e relação entre a ordem política e o desempenho militar que um filme de confrontação, na constante expectativa de um encontro que parece inevitável. Como resume brilhantemente a personagem de Sean Connery, é “uma guerra sem guerra” e o filme sabe mostrá-lo.
E quando o encontro chega, é magnífico. As melhores cenas do filme, aliás, dão-se na última meia-hora. Primeiro, quando os militares americanos e o analista da CIA entram no submarino russo. Apesar de absolutamente equivalente, esse encontro é dado como se fosse um encontro entre humanos e alienígenas, em posições inter-mutáveis. Há uma brilhante tensão, em constante crescimento nos seus passos titubeantes apesar do respeito pelo protocolo militar, gerida magníficamente por McTiernan, que contamina o momento. E, finalmente, o belíssimo combate entre o submarino russo extraviado e o “oficial”, que coloca uma hipótese estimulante: e se Hunt for Red October fosse, afinal, um swashbuckler entre submarinos? Fazia todo o sentido e só contibuía para o fascínio que exerce.
Como os outros filmes que McTiernan fez entre 1985 e 1995 e aos quais se pode juntar o muito razoável Basic (2003), Hunt for Red October só faz lamentar que a carreira de McTiernan tenha sofrido os empecilhos que sofreu por parte dos estúdios, com especial enfase para os problemas que resultaram nos cortes e no descrédito de The 13th Warrior (1999) e Rollerball (2002) – falamos de um cineasta com apenas 11 filmes em 22 anos e que não filma desde 2003. Afinal de contas, era disto que se devia falar quando se fala de thriller político, filme de acção ou blockbuster. A ser visto pelos produtores da saga Bourne.
Sem comentários:
Enviar um comentário