01 maio 2012

Indiegências 2012 (1)

Em parceria com a Take


Inni de Vincent Morrisset: Este bem conseguido filme-concerto que documenta um espectáculo dos Sigur Rós em Londres opta por, em vez de tentar mostrar realistacamente o que é um concerto dos islandeses, estilizar, num preto e branco desfocado e nos ângulos de câmara claustrofóbicos, o espectáculo e mostrar que a música da banda, ao vivo bem mais distorcida e violenta do que em disco, sobrevive perfeitamente em vários contextos. Um bom ponto de partida para a obra de um dos mais idiossincráticos grupos da década.


Rafa de João Salaviza: Uma curta-metragem com alma de longa, que podia perfeitamente ser mais extensa do que é, mostrando como a personagem-título tenta resgatar a mãe da prisão depois de um acidente de viação. Tudo é excelente em Salaviza: o universo de isolamento e alienação bem definido, a virtuosa gestão dos tempos, a noção de narrativa que nunca se perde, a gramática virtuosa e já bem definida. Nem queremos imaginar a pressão que estará sobre Salaviza depois de uma Palma e de um Urso de Ouro, mas também acreditamos que saberá contorná-la. Um grande cineasta em potencial.


Nana de Valérie Massadian: A ser exibido no mercado nacional com a curta-metragem Rafa de João Salaviza, é um filme de escopo propositadamente pequeno, mostrando, ao longo de pouco mais de uma hora, a vida de uma criança abandonada em cenário de Verão campestre. A protagonista Kelyna Lecomte é deliciosa e o filme tem um rigor fotográfico pronunciado, cada plano rigorosamente construído pela mão da realizadora, ex-fotógrafa. É verdade que é um objecto sem grande golpe de asa, inclusivamente inferior à curta-metragem que o complementará, mais um filme que chega, com competência, de um ponto ao outro, mais ainda assim digno de nota.


 4:44 The Last Day on Earth de Abel Ferrara: A primeira desilusão do festival. O filme de Ferrara, que opta por encenar o fim do mundo a partir de um apartamento em Nova-Iorque, é também um filme sobre as limitações e as consequências da mediação tecnológica constante e de como esta não consegue, em situações limite, ultrapassar as limitações do ser humano, contribuindo para elas com uma sensação de impotência exponenciada por essa mediação, é também um filme com uma encenação demasiado arty, longe da energia que caracteriza os melhores Ferrara. Continuamos a preferir os filmes mafiosos, vampírico e de vão de escada que o italo-americano já fez. Aqui, para o bem e para o mal, está demasiado próximo de Hal Hartley.  

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