Inni de Vincent Morrisset: Este bem conseguido filme-concerto que
documenta um espectáculo dos Sigur Rós em Londres opta por, em vez de tentar
mostrar realistacamente o que é um concerto dos islandeses, estilizar, num
preto e branco desfocado e nos ângulos de câmara claustrofóbicos, o espectáculo
e mostrar que a música da banda, ao vivo bem mais distorcida e violenta do que
em disco, sobrevive perfeitamente em vários contextos. Um bom ponto de partida
para a obra de um dos mais idiossincráticos grupos da década.
Rafa de João Salaviza: Uma curta-metragem com alma de longa, que
podia perfeitamente ser mais extensa do que é, mostrando como a personagem-título
tenta resgatar a mãe da prisão depois de um acidente de viação. Tudo é
excelente em Salaviza: o universo de isolamento e alienação bem definido, a
virtuosa gestão dos tempos, a noção de narrativa que nunca se perde, a gramática
virtuosa e já bem definida. Nem queremos imaginar a pressão que estará sobre
Salaviza depois de uma Palma e de um Urso de Ouro, mas também acreditamos que
saberá contorná-la. Um grande cineasta em potencial.
Nana de Valérie Massadian: A ser exibido no mercado nacional com a curta-metragem
Rafa de João Salaviza, é um filme de escopo propositadamente pequeno,
mostrando, ao longo de pouco mais de uma hora, a vida de uma criança abandonada
em cenário de Verão campestre. A protagonista Kelyna Lecomte é deliciosa e o filme tem um
rigor fotográfico pronunciado, cada plano rigorosamente construído pela mão da
realizadora, ex-fotógrafa. É verdade que é um objecto sem grande golpe de asa, inclusivamente
inferior à curta-metragem que o complementará, mais um filme que chega, com
competência, de um ponto ao outro, mais ainda assim digno de nota.
4:44 The Last Day on Earth de Abel Ferrara: A primeira desilusão do
festival. O filme de Ferrara, que opta por encenar o fim do mundo a partir de
um apartamento em Nova-Iorque, é também um filme sobre as limitações e as
consequências da mediação tecnológica constante e de como esta não consegue, em
situações limite, ultrapassar as limitações do ser humano, contribuindo para
elas com uma sensação de impotência exponenciada por essa mediação, é também um
filme com uma encenação demasiado arty, longe da energia que caracteriza os
melhores Ferrara. Continuamos a preferir os filmes mafiosos, vampírico e de vão
de escada que o italo-americano já fez. Aqui, para o bem e para o mal, está
demasiado próximo de Hal Hartley.
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