Em parceria com a Take
Take Shelter de
Jeff Nichols: certamente um dos grandes filmes americanos a ser visto em
Portugal em 2012, Take Shelter é um
filme de confirmações: de Jeff Nichols como um dos cineastas americanos mais
interessantes da actualidade; de Michael Shannon e de Jessica Chastain como actores
excepcionais; e de uma ominosidade, de um mal-estar generalizado, que percorre
a sociedade americana, sobretudo nas suas instâncias mais proletárias. Tenso e
perturbante, é uma vitória do festival tê-lo mostrado e esperamos que a sua
estreia em sala lhe dê a atenção merecida.
Alps de Yorgos Lanthimos: Depois do belíssimo Canino, Alps é uma
evolução na continuidade, um expandir do mesmo universo malsão, violento e
surreal que Lanthimos parece privilegiar. Filme sobre duplos, é uma visão sobre
um país em crise de identidade e à procura de uma realidade paralela que lhe
permita fugir de si próprio. Pela sua vertente social metafórica, pela sua
claustrófobia visual e pela coerência estética, pode estar aqui um equivalente
grego à obra dos irmãos Dardenne.
Terri de Azazel Jacobs: há filmes que, para o bem e para o mal, são
simpáticos e pouco mais. Terri é bem
filmado, tem personagens adolescentes pelas quais é fácil interessarmo-nos e os
actores são perfeitamente adequados às suas personagens. Falta apenas um golpe
de asa que o eleve para lá dessa simpatia, o mesmo ponto que quase ultrapassa
na sequência da noite que os jovens passam juntos. Há pior, mas, pelo menos a uma primeira visão, nada tem de
superlativo.
Meet the Fokkens de Rob Schroeder e Gabrielle Provaas: até ao penúltimo
dia do festival o principal candidato ao prémio do público e que acabou por ser
premiado com a exibição pela RTP2, este é um documentário doce sobre duas gémeas
septuagenárias prostitutas no “red light district” de Amsterdão, uma já
reformada, outra ainda em actividade. Cheias de vida, apesar de todas as
dificuldades a que foram sujeitas, as protagonistas dão-nos um um retrato doce
de um meio conhecido mais pela promiscuidade e pela libertinagem. A rever
quando passar na tv, quando mais não seja pelo lado revigorante da história.
Michael de Markus Schleinzer: Filme misterioso e com uma solidez de
betão, o seu lado frontal e afirmativo num caso tão violento de sequestro e
pedofilia escandalizou muitos do que o viram. Não é, de maneira nenhuma, um
filme no qual o espectador se possa infiltrar, há sempre uma muralha entre as
situações e quem vê, mas os momentos em que se mostra mais fascinante (aquele
em que vemos a volúpia estampada nos olhos do pedófilo deitado na cama do rapaz ou a tentativa de rapto falhada de outra criança) são poderosos. Mais um bom
filme num festival que os teve em bom número.
E pronto, este já foi. Apenas um agradecimento especial ao staff da videoteca, onde vi a maior parte dos filmes e que muito jeito me deu na organização do meu horário. Até para o ano.
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