06 maio 2012

Indiegências 2012 (último)


Em parceria com a Take


Take Shelter de Jeff Nichols: certamente um dos grandes filmes americanos a ser visto em Portugal em 2012, Take Shelter é um filme de confirmações: de Jeff Nichols como um dos cineastas americanos mais interessantes da actualidade; de Michael Shannon e de Jessica Chastain como actores excepcionais; e de uma ominosidade, de um mal-estar generalizado, que percorre a sociedade americana, sobretudo nas suas instâncias mais proletárias. Tenso e perturbante, é uma vitória do festival tê-lo mostrado e esperamos que a sua estreia em sala lhe dê a atenção merecida.


Alps de Yorgos Lanthimos: Depois do belíssimo Canino, Alps é uma evolução na continuidade, um expandir do mesmo universo malsão, violento e surreal que Lanthimos parece privilegiar. Filme sobre duplos, é uma visão sobre um país em crise de identidade e à procura de uma realidade paralela que lhe permita fugir de si próprio. Pela sua vertente social metafórica, pela sua claustrófobia visual e pela coerência estética, pode estar aqui um equivalente grego à obra dos irmãos Dardenne.


Terri de Azazel Jacobs: há filmes que, para o bem e para o mal, são simpáticos e pouco mais. Terri é bem filmado, tem personagens adolescentes pelas quais é fácil interessarmo-nos e os actores são perfeitamente adequados às suas personagens. Falta apenas um golpe de asa que o eleve para lá dessa simpatia, o mesmo ponto que quase ultrapassa na sequência da noite que os jovens passam juntos. Há pior, mas, pelo menos a uma primeira visão, nada tem de superlativo.


Meet the Fokkens de Rob Schroeder e Gabrielle Provaas: até ao penúltimo dia do festival o principal candidato ao prémio do público e que acabou por ser premiado com a exibição pela RTP2, este é um documentário doce sobre duas gémeas septuagenárias prostitutas no “red light district” de Amsterdão, uma já reformada, outra ainda em actividade. Cheias de vida, apesar de todas as dificuldades a que foram sujeitas, as protagonistas dão-nos um um retrato doce de um meio conhecido mais pela promiscuidade e pela libertinagem. A rever quando passar na tv, quando mais não seja pelo lado revigorante da história.


Michael de Markus Schleinzer: Filme misterioso e com uma solidez de betão, o seu lado frontal e afirmativo num caso tão violento de sequestro e pedofilia escandalizou muitos do que o viram. Não é, de maneira nenhuma, um filme no qual o espectador se possa infiltrar, há sempre uma muralha entre as situações e quem vê, mas os momentos em que se mostra mais fascinante (aquele em que vemos a volúpia estampada nos olhos do pedófilo deitado na cama do rapaz ou a tentativa de rapto falhada de outra criança) são poderosos. Mais um bom filme num festival que os teve em bom número.    


E pronto, este já foi. Apenas um agradecimento especial ao staff da videoteca, onde vi a maior parte dos filmes e que muito jeito me deu na organização do meu horário. Até para o ano. 

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