30 dezembro 2008
Melhores de 2008
2. La Frontière de l`aube de Philippe Garrel
3. La Graine et le Mulet de Abdel Kechiche
4. Darjeeling Limited de Wes Anderson
5. There Will Be Blood de P.T. Anderson
6. Before the Devil Knows You`re Dead de Sidney Lumet
7. Coeurs de Alain Resnais
8. We Own the Night de James Gray
9. Les Amours d`Astrée et de Céladon de Eric Rohmer
10. Aquele Querido Mês de Agosto de Miguel Gomes
28 dezembro 2008
Discos (ordem alfabética)
Death Cab for Cutie - Narrow Stairs
Last Shadow Puppets - Age of the Understatement
MGMT - Oracular Spectacular
Portishead - Third
Robert Forster - The Evangelist
Santogold - Santogold
The Hold Steady - Stay Positive
The Kills - Midnight Boom
Tindersticks - The Hungry Saw
TV on the Radio - Dear Science
É capaz de ter havido mais (fora o que está por ouvir, Fleet Foxes e Bon Iver, por exemplo). Assim de repente, lembro-me destes. Post sujeito a actualização.
22 dezembro 2008
11 dezembro 2008
Largas bestas têm cem anos
Não faço ideia, mas creio não existirem cinco cineastas vivos que tenham dado tanta despesa aos contribuintes quanto Manoel de Oliveira. O próprio nome Manoel, em vez de Manuel, é uma piroseira, que se aceita no caso de ser nome de família. Ainda por cima fizeram-lhe uma casa-museu que este artista deixou ao abandono.
11.12.2008 - 13h06 - SVC, Maia
O sr. Oliveira só seria bom se tivesse nascido aí no estuário do Tejo? Como não foi o caso, e ainda teve o atrevimento de vir nascer á província (entenda-se o Porto segundo a perspectiva do estuário do Tejo) nem a Ingmar Bergman pode ser comparado. Quanto a subsídios a outros cineastas - seria bom saber quantos foram contemplados e que fossem do Porto. Aiai o centralismo deste país...
11.12.2008 - 13h14 - Anónimo
Se ele é tão bom, por que é que nunca ganhou nenhum prémio, com excepção daqueles especiais de carreira, do juri... do raio que o parta! A verdade é que a maioria dos filmes são aborrecidos, e por isso são louvados pelos supostos intelectuais...
Estes três comentários estão disponíveis na notícia do Público dedicada ao centenário de Manoel de Oliveira. E explicam perfeitamente por que não lhe vou fazer homenagem nenhuma hoje. Exceptuando o comentário do meio, mera baboseira bairrista mais interessante pela estupidez, os outros dois resumem muito daquilo que a opinião pública pensa de Oliveira. Pessoalmente, acho que quem quer homenagear um cineasta destes deve faze-lo sempre que possível. Quanto aos outros, deviam perceber que não é o pais que não merece Oliveira e os seus “encargos”: Oliveira é que, depois de cem anos, merece mais do que aturar bardamerdas.
08 dezembro 2008
A Fronteira do Amanhecer
Também teremos de agradecer a Louis Garrel. Podemos nem todos o achar um grande actor (e eu até o acho, juntamente com Benoit Magimel e Romain Duris, do melhor que aconteceu nos últimos anos ao cinema francês), mas o facto de se ter tornado um actor de renome, com Os Sonhadores e com os filmes de Christophe Honoré possibilitou ao pai, pela sua constante participação, o financiamento para dois belíssimos filmes (este e o anterior Les Amants Reguliers). Enquanto os produtores pensam nas meninas que vão ao cinema pelo Garrel Jr, não estragam o filme que vemos no ecrã. Duvido que Garrel Sr estivesse a filmar com esta liberdade e com esta regularidade se não tivesse um filho famoso.
Como também duvido que Garrel tivesse assunto para filmar em tão pouco tempo não tivesse havido uma projecção de si mesmo, um corpo e um rosto onde se sentisse suficientemente confortável para expor não apenas o recontar da sua juventude (Les Amants Reguliers), mas também uma poesia amorosa única nos tempos que correm, ridícula se não feita com a maior seriedade e com a maior crença em si mesma. Garrel filho libertou Garrel pai de todas as maneiras e merece ser recompensado com um agradecimento.
E temos igualmente que agradecer a Philippe Garrel por filmar tão bem. O seu filme, história de um casal que a loucura vem separar primeiro e reunir depois, é um portento de luz e sombra, de brancos muito brilhantes e de negros escuríssimos, de texturas imensas que apenas múltiplas visões conseguirão deslindar. O francês controla na perfeição todos os seus recursos e os seus filmes parecem sempre simples, quase académicos, tal a simplicidade de métodos por ele utilizados – é de saudar não apenas os múltiplos fechos de íris que aproximam o filme da época do mudo, como também a sequência do pesadelo de François, em que a floresta inicial parece a de Hansel e Gretel filmada por Murnau. O que vemos, no fundo, é a velha coexistência entre uma razão e uma acção, um pensamento e um método, uma ética e uma estética. Perante uma confiança tamanha no seu projecto, a prática só pode dar essa ideia de facilidade.
Mais difícil é faze-lo quando se trabalha num filme tão imaterial quanto La Frontiere de l’Aube. Toda esta genial obra se foca na cabeça e no coração destas personagens, na perigosa linha onde sentimentos e ideias se encontram. O que acontece a cada imagem de Garrel (com especial destaque para os momentos de Laura Smet no chão, a mais bela depressão cinematográfica desde a de Liv Ullman no Face a Face de Bergman), capaz de mostrar o visível e o invisível. Chamaram-lhe poético. Se isso é o nome dado a quem transcende o limite do que é mostrado, a quem capta para lá do enquadramento, Garrel é-o definitivamente. Um sincero obrigado por isso é do mais elementar rigor.
E, no fundo, para que serve o parágrafo anterior? Para nada, se tivermos em conta em conta que o grande mérito de La Frontière de L’Aube é o de dar sempre a sensação de ter mais e mais mundos a descobrir e, simultaneamente, sabermos que nunca se abrirá em toda a sua profundidade para nós. A exegese é inútil. Filmes como este não se explicam; agradecem-se.
07 dezembro 2008
Notas da 'teca (5)
Inversamente, as mudanças são suficientes para tornar este um dos mais esdrúxulos filmes de Sirk nos EUA. O presente da acção não é os anos de Eisenhower, mas a época da Grande Depressão. Semelhante mudança provoca desde já uma alteração e termos dos caracteres tratados, que longe de serem os ricos são o proletariado quase “lumpen” que arrisca a vida em espectáculos aéreos pelo rendimento essencial à sobrevivência. Este é, então, um filme tão emocional quanto Imitation of Life (1959) ou All that Heaven Allows (1956), mas que aposta num erotismo e numa violência (ver, respectivamente, a queda de pára-quedas onde o vento levanta as saias de Dorothy Malone a níveis muito inesperados e a brutal cena em que, através de dados desenhados em cubos de açúcar, Stack disputa com o ajudante o casamento com Malone) dando um aspecto mais cru e cortante que o habitual. Finalmente, duas mudanças técnicas acompanham as mudanças tematico-sociais: o preto-e-branco, que em muito contribui para que se creia no horizonte temporal do filme (onde a reconstituição de época é feita com muita simplicidade e com poucos meios), e um prodigioso uso do scope, de uma racionalidade perfeita e de uma profundidade de campo notável, sobretudo nas prodigiosas cenas de corrida aérea.
Filme de morte como poucos na carreira do alemão e que Sirk terá feito como complemento ao vício e decadência retratados em Written in the Wind, é mostra de algo extraordinário: um cineasta que consegue interromper o seu tecido contínuo, não perdendo por um momento o domínio da sua arte. Se por mais nada (e há aqui muito mais), The Tarnished Angels é uma obra-prima que demonstra cabalmente a versatilidade do seu autor.
17 novembro 2008
Bater no ceguinho
Ensaio sobre a Cegueira (1995) é, para o bem e para o mal, um dos mais, senão o mais importante livro de José Saramago. Para o bem, pela força de uma distopia, apocalíptica pela ausência de civilização que se gera, abruptamente, da perda de uma das mais elementares funções biológicas. E, não esquecer, pela capacidade do seu autor em fomentar de forma ampla e loquaz o medo no leitor, seja da animalidade humana, seja da máquina de repressão estatal, que nunca perde oportunidade de impressionar os seus cidadãos quando surge algo que a ponha em causa. Para o mal porque, com ele, Saramago parece ter atingido algo como uma fórmula (o acontecimento inverosímil que põe em causa as estruturas civilizacionais), longe da liberdade patente, por exemplo, no sublime Levantado do Chão (1980). Por exemplo, o Ensaio sobre a Lucidez (2004) segue o mesmo método – até no título – mas de forma muito menos interessante. Vamos ver se o recém-editado livro do paquiderme é diferente….
Ancorado no merecido sucesso internacional que até aqui teve, Fernando Meirelles adapta então, 13 anos, um Nobel e uma pneumonia quase mortal depois, a obra charneira de Saramago. E fá-lo mal.
Em primeiro lugar, porque confunde, do ponto de vista da adaptação literária, a truculência virtuosa da prosa do Nobel (desculpem a repetição, é para chatear críticos literários de direita…) com uma deriva maneirista em que o cinema de Meirelles, correndo sempre esse risco, ainda não havia entrado em Cidade de Deus (2002) ou The Constant Gardner (2005). Desde a “metalização” cromática da imagem, tornando-a asséptica, o que “desrealiza” o que estamos a ver e torna menos eficaz a alegoria, até ao imensamente irritante “fade to white” (sem qualquer comparação com o efeito conseguido com os vermelhos de Bergman em Cries and Whispers, 1972), tudo parece ser uma obrigação cinematográfica de Meirelles face ao livro, uma tentativa de mostrar que, se o material de origem é bom, também o cineasta o é. E, pelo menos aqui, não é esse o caso.
E, segundo factor, não parece haver nada neste filme que não deva algo a Saramago, que tenha sido ideia do realizador (por exemplo, o fabuloso momento de Danny Glover a pensar se o regresso da visão lhe vai acabar com o amor é claramente romanesco), que o cineasta tenha juntado à obra do Nobel (embrulhem!). A estrutura do filme é demasiado fiel, contentando-se em resumir a contento o livro, numa espécie de “Caderno Europa-América” visual do que é o romance. E este é muito mais do que isto.
Ainda não foi desta que se viu um bom Saramago no ecrã – e nem me perguntem pela adaptação de A Jangada de Pedra (1986) por um qualquer holandês voador, que nem quero saber. Que no futuro haja um cineasta português, mais conhecedor do contexto em que surgem estas ideias, que adapte dignamente um romance do Nobel português (dói, não dói?). Candidatos a adaptação? O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984).
30 outubro 2008
Demasiada areia
Burn After Reading pega, de forma hábil, numa das qualidades maiores dos Coen: a capacidade de sobrepor o riso às situações aparentemente mais negras. Tratando, como habitualmente, a perseguição de sonhos de riqueza e de felicidade por parte de personagens inábeis, os irmãos urdem uma teia de crises de meia-idade às vezes caricatural, às vezes hilariante, ainda outras vezes triste, que sustenta o filme e prende o interesse. A evolução de Burn After Reading, numa progressiva explosão de violência, adensa a narrativa com uma progressiva seriedade em tudo diferente da parvoíce do filme helénico-sulista. Por outras palavras, o que todas estas personagens fazem é, de uma maneira dura e sangrenta, perceber qual a quantidade de areia que excede a capacidade da sua camioneta. A comédia é aqui tratada como uma coisa séria, com o seu muito respeitável quê de Billy Wilder.
O ano de 2008 não está a ser bom para os Coen apenas por Óscares e quejandos. As regalias são sintoma de algo maior: o regresso da credibilidade a este cinema. Que Burn After Reading não seja o fim desse processo.
29 outubro 2008
Revisão da Matéria Dada - IV
2. Gomorra O realismo devia ser sempre isto, vibrante, fervente, emocionante, sempre em constante movimento. Mais retrato que narrativa, este mosaico à volta da máfia napolitana mostra com pujança, com estilo e com uma “neutralidade” bem conseguida acontecimentos que, no limite, dão a sensação de estarem a acontecer à nossa frente. Destaque especial para tudo aquilo que nele há de mediterrânico: a capacidade de desenrascanço (os miúdos trazidos para conduzir os camiões do lixo), os putos vivazes (os dois que, inspirados pela iconografia cinematográfica da máfia, sonham em dominar a Camorra) e a maneira como a música, mais do que evocar os sentimentos, fabrica por si só a alegria e o escapismo. Belíssimo.
3. Tropic Thunder Quando vi o trailer, pensei ingenuamente: “Será que ao fim de três-quinze anos, Hollywood voltou a fazer uma boa comédia?” A realidade, contudo, derrotou a boa vontade nestas duas horas onde, por falta de moderação na gestão temporal (gags muito longos) e narrativa (é um filme que, sendo sempre bastante canhestro, se desconjunta à medida que avança), se transforma em algo francamente mau. O problema de Stiller não é ter más ideias – já Cable Guy estava cheio de momentos francamente interessantes. O problema de Stiller é achar que basta por uma câmara á frente de meia dúzia de palermices para se fazer um filme.
16 outubro 2008
O vento levá-los-à
Este conto de destruição de uma família podre de rica à conta do ouro negro, gente que tem tudo para ser feliz mas nunca o consegue, faz-se até de forma relativamente mais simples do que muito do que a rodeia. Longe da maior profundidade de outros filmes, a progressão narrativa é aqui linear e veloz e a estrutura simples, como o trajecto do carro que Stack conduz no início. Tudo gira à volta dos dois elementos exteriores que, em duas alturas diferentes, entram na família. Hudson, irmão de Stack e objecto de desejo da irmã deste, Dorothy Malone, e Lauren Bacall, esposa de Stack e enfatuação de Hudson, não são, como começa por parecer, a trave-mestra que segura este mundo. Tudo já começou a ruir há muito (fala-se no estroina tio de Stack) e ambos acabam por ser mais catalisador do que impedimento. Não por acaso, como num assumir do falhanço, há uma ambiguidade final quando Hudson e Bacall entram no carro para partir sabe-se lá para onde, como se salvarem-se um ou outro seja o substituto possível da salvação da família ou, pior ainda! até uma vitória.
Ousando uma visão mais ampla sobre a célebre e onanista cena final, com Dorothy Malone a acariciar a miniatura da torre petrolífera (de uma maneira que ou deixa muitas dúvidas ou não deixa dúvidas nenhumas…), e se esta fosse o explanar da posição de Sirk ao longo da sua carreira americana? Como Dorothy Malone, que tudo fez para destruir a sua família, também Sirk tudo fez para destruir esta ideia de felicidade social, pura má consciência. Como Malone, também Douglas Sirk parece chorar quando o consegue. A tristeza dos vencedores é algo de tramado.
06 outubro 2008
LEGEND ... wait for it... DARY!
A razão é uma prodigiosa série chamada How I met your mother, que começa à referida hora e ao dia marcado na Fox Life. Juntando o melhor de Cheers (o conceito de Happy Hour, as terapêuticas cervejas emborcadas para esquecer num sítio sempre igual, portador de conforto e estrutura – duas coisas que não podiam estar mais longe da rotina) e Seinfeld (a exploração e teorização maníaca, quase psicótica, tanto sobre os aspectos mais insignificantes do quotidiano quanto das relações humana, no seu lado mais ritualizado e “cultural” – postura que poderá ser atribuída a também esta série se passar em Nova Iorque) é, excelente ideia!, a história de um pai que resolve contar aos seus filhos, em 2030, como conheceu a sua mãe. Felizmente, o foco não é, pelo menos por enquanto, a relação entre mãe e pai, mas tudo o que se passa antes, no presente do espectador: casais ocasionais, paranóias colectivas, apostas resolvidas à chapada, e o Barney, porra, o Barney.
E que achados são estas personagens! Ted, tão normal e sempre metido em sarilhos; Robin, fechada, frígida e com um medo brutal do compromisso; Lily e Marshal (respectivamente Allyson Hannigan, de Buffy the Vampire Slayer e Jason Segel de outra série cá do panteão, a memorável mas esquecida Freaks and Geeks), os mais inocentes, mais puros do grupo, casal desde que se conhecem, pêndulo para os demais. E depois há Barney. "White trash", convencido de que é "bon-vivant", a um tempo completamente lúcido e absurdo, dava uma série sozinho.
Nada disto, por si só, faz uma boa série e, inclusivamente, já o vimos em muitas outras sitcoms. O que faz desta série notável a todos os títulos é que o seu dispositivo em constante flashback (e as piadas que daí advêm, como o facto de os charros consumidos na faculdade serem substituídos, na moral da história contada aos filhos, por sanduíches) possibilita uma doce e diáfana nostalgia por um tempo em que tudo era possivel, em que cada dia era passível de aventuras que acabavam connosco estatelados no chão mas com a capacidade de nos levantarmos e de seguirmos em frente, a começar por um passeio até ao bar da esquina para irmos ter com os nossos amigos e saborear uma fresquinha. Nunca acreditei que a vida fosse este mar de possibilidades – nem quando tinha dezasseis anos, muito menos hoje, oito horas por dia fechado numa companhia de seguros. A única altura em que acredito é aos domingos, na Fox Life, às 22h15m.
28 setembro 2008
07 setembro 2008
Suicide is painless
No meio disto tudo, Altman nunca nos deixa esquecer onde Hawkeye, Trapper, Duke, Hot Lips, Frank Burns e Radar (Gary Burghoff, o único actor que viria a transitar com a mesma personagem para a não menos excelente série de televisão) estão. Se há perdão (quer no sentido divino quer no de César, na pessoa do Coronel Burke) para as tropelias que estes cirurgiões fazem a tudo e todas que lhes aparecem à frente, tal deve-se não apenas ao facto de bons cirurgiões serem difíceis de encontrar, mas também à noção de que pouco depois de as fazerem terão as mãos nas tripas de um qualquer jovem do Utah ou do Illinois. Tanto quanto de escapismo, há um desejo de paz a perpassar este enorme filme. É isso que o torna grande.
Revisão da Matéria Dada - III
2. Wall-E. Não há estúdio como a Pixar; quem já lhes tiver visto um filme mau que atire a primeira pedra. Wall-E é soberbo na sua primeira parte, razoavelmente “muda”, em que o patusco robot limpador de lixo desempenha, num tom mimoso, as suas tarefas e se enamora de uma semelhante. Na nave espacial, o tom é menos interessante, e a mensagem (de necessário pendor ecologista), sobrepõe-se um pouco à estética. Não nos enganemos, porém: o que aqui está é cinema de grande calibre, de técnica perfeita e de óptima respiração temporal. Não chega ao nível de Cars, mas isso pouco importa; enquanto dura é envolvente, belo e exemplar.
3. The Hottest State. Saco de porrada para muito boa gente, o filme de Ethan Hawke tem poucas qualidades que suplantam os seus largos defeitos. Hawke não tem grande olhar de cineasta, o seu filme é de ritmo flutuante e até a própria montagem é questionável. No entanto, este filme tem gente lá dentro, tem actores soberbos e disponíveis (Mark Webber e Catalina Sandino Moreno, para além da soberba Laura Linney) e tem um conjunto de frases notáveis que fazem pensar seriamente em ler o livro. Se há algo de notoriamente artificial em tudo isto, há também algo de sério, de humano, de nervo á flor da pele. Visto por esse prisma, merece tudo.
24 agosto 2008
Fora isso, nada com que te preocupares (2)
idem
Fora isso, nada com que te preocupares
TVI, Sexta-Feira, 22:00
Ao ver The X-Files: I want to believe, o que me surpreende mais é o quanto o mundo mudou. The X-Files foi, juntamente com Seinfeld, a série dos anos 90 que melhor capturou o zeitgeist. Seinfeld era a série que melhor exemplificava o fim da História de que falava Francis Fukuyama: num mundo sem grandes quezílias político-ideológicas, de prosperidade económica e onde, facto assustador, a moral desapareceu porque Deus morreu, tudo são hilariantes trivialidades. The X-Files era o seu duplo: sem a paranóia anti-vermelha, e com a aparência de que, geo-estratégicamente, tudo estava resolvido, olhava-se, a um tempo, totalmente para fora e totalmente para dentro. Fox Mulder, no fundo, é isso: alguém que se enterra no estratosférico e, de caminho, olha para si mesmo e nunca gosta do que vê. Simultaneamente, a América que já não tinha ameaças exteriores tratava de as encontrar no seu próprio território.
Entrando no cliché, esta visão serviu também para perceber o que mudei: aquilo que me fascinava há 15 anos, hoje não me convence. O problema reside em saber se isso é apenas do filme, banal e esquemático, ou se conseguirei rever a série com o mesmo fascínio da minha meninice. Palpita-me que não.
27 julho 2008
Expliquem-me...
Oiço isto desde criança e, infelizmente, com cada vez mais frequência. Percebo a ideia de ser um filme ser um bom swashbuckler, um bom noir, um bom gidai geki ou um bom western. Já a ideia de que um filme é na generalidade fraco mas, dentro do género, até é bom, escapa-me.
Numa altura em que se critica tanto (e com alguma razão) o relativismo moral, gostava que se criticasse este relativismo cinematográfico, a um tempo fruto e gerador de falta de exigência crítica.
13 julho 2008
Digo eu...
Cá para mim, muito menos interessante.
12 julho 2008
Optimus Alive 2008 - texto impressionista
Entrada. Estacionar é muito dificil, e, quando finalmente se deu um euro a um arrumador e se arranjou um buraco para a viatura, dirigimo-nos para o festival. Um calor abrasador e uma colocação de barricadas em 3 ou 4 espaços antes da entrada derradeira. Processo de quase uma hora no total. Quando dentro do recinto, a primeira coisa que se faz é ir buscar uma jola e arranjar lugar decente para ver os Vampire Weekend.
Não gosto assim tanto do disco de estreia destes nova-iorquinos. Sobre-produzido e algo frouxo, deixa, ainda assim, antever um talento maior que o demonstrado, em temas como Cape Cod ou Oxford Coma. Ao vivo, no entanto, é outra coisa… Enérgicos, competentes e com imensos fãs à frente (vi uma pessoa ser assistida devido à pressão do muito público para a capacidade das filas da frente da tenda Metro), as suas belas canções têm enorme força, sendo um estimulo simultaneo para o salto e para o pensamento. Em crescendo, foi um momento de fruição muito boa, aperitivo perfeito para o que viria. Com o tempo, estes americanos com ar de bifes têm tudo para melhorar.
My mind’s not right ou Como me tornei um adolescente de 14 anos a tentar tocar no Matt Berninger
Momentos finais do concerto dos National, algo por que tinha esperado desde que descobri Aligator. Mr November explode nos amplificadores. Metade da canção e Matt Berninger desce do palco, pendurando-se na grade. O pessoal começa-se a esmagar e eu digo à minha namorada “Sai da frente!”. Vou a correr para a frente do palco e… ele regressa ao palco antes de lhe conseguir tocar. Falhei o objectivo, mas a corrida valeu a pena. E, depois disto, não preciso dizer quanto gostei, pois não?
E, nisto, até me esqueci de dizer que o espectaculo dos National, infelizmente, coincidiu com os MGMT no palco Metro, banda que queria imenso ver. Fica para a próxima.
Drum machines have no soul ou Esta banda mata fascistas
Conheço 319 bandas melhores que os Gogol Bordello. Não conheço nenhuma que dê um espectaculo destes, rock, raiva, entrega, transpiração e uma confusão do catano. Ao meu lado, mosh e ganza a rodos. E eu e a Sandra, encharcados em suor e cervejas alheias, que nos caíram em cima com os saltos dos outros. No palco, a apoteose. E isto, não sendo um grande momento musical, é aquilo que o palco devia instigar em todos os que fazem música. Meio bilhete foi para aqui.
Depois disto, os meus pés estavam em papa, as minhas costas doíam e entrava no emprego ás nove do dia seguinte. Ao ir-me embora, pensei que tinham sido os 45 euros mais justificados dos últimos tempos.
06 julho 2008
03 julho 2008
!Que post tan raro!
Que fiz eu para merecer isto (7)
Matador (8)
A Lei do desejo (10)
Mulheres à beira de um ataque de nervos (10)
Ata-me! (8.5)
Kika (8.5)
A Flor do meu segredo (6.5)
Em carne viva (5.75)
Tudo sobre a minha mãe (10)
Fala com ela (8.5)
La Mala Education (7.5)
Volver (8)
[Gostava especialmente - mas não exclusivamente - de ver as notas do Daniel, do Hugo, do Zé, do Paulo e do Tiago]
29 junho 2008
Fazedores de Auschwitz
19 junho 2008
18 junho 2008
14 junho 2008
Revisão da Matéria Dada - II
2.Sex & the City. Duas horas e quinze minutos depois, chega-se à conclusão de que este filme não existe. É um buraco negro cinematográfico, que cospe o interesse da série num lixo inane e óbvio para consumo rápido.
3.La Graine et le Mullet. Um fantástico épico proletário sobre a vontade de ser alguém e de deixar legado, mesmo que à beira da morte. Kechciche possui um estilo maleável e fortemente realista, procurando, com os seus planos muito fechados, quase imiscuir-se na realidade daquilo que filma. Habib Boufares e Hafsia Herzi são fantásticos, a gestão do tempo é admirável (duas horas e meia que passam num ápice) e, no final, ficamos com a sensação de termos estado in loco com aquelas pessoas, produtos da descolonização e vítimas da globalização. Fantástico.
11 junho 2008
O melhor filme americano dos últimos 40 anos (III)
O melhor filme americano dos últimos 40 anos (II)
O melhor filme americano dos últimos 40 anos (I)
06 junho 2008
Revisão da Matéria Dada - I
4.Indiana Jone$ and the Kingdom of the Cri$tal $kull. Tivessem parado nos anos 80, tinham feito melhor.
Filmes do Mês - Maio de 2008
My Blueberry Nights de Wong Kar-Wai
Indiana Jones and The Kingdom of the Crystal Skull de Steven Spielberg (4)
Shine a Light de Martin Scorsese (6,5)
Casa
La Mariée Était en Noir de François Truffaut (8)
L'Enfant Sauvage de François Truffaut (7)
Anatomy of a Murder de Otto Preminger (8)
29 maio 2008
Indiegências 2008
O primeiro desses filmes, logo na noite de abertura e perante casa cheia, foi o brilhante The Mission (1986), 'western' urbano a um tempo cinético e flutuante, sobre um grupo de homens contratados para proteger um chefe do crime ameaçado por um rival. Filmado com lentes potenciadoras da profundidade de campo e com momentos de 'empate técnico' nas sequências de acção geradoras de enorme tensão dramática (e muito diferentes das de John Woo, onde dois “pistoleiros,” a poucos centímetros de distância um do outro, apontam reciprocamente armas à cabeça), é um belo exemplo de como fazer grandes e pessoalíssimos filmes de acção sem inventar o que quer que seja, reorganizando apenas os elementos de acordo com a sua voz pessoal. Aqui, To vira-se para a amizade lacónica que surge entre o grupo de homens e que os leva, em última instância, a arriscar reputação e vida em prol do mais irresponsável dos membros do grupo. O IndieLisboa começou em grande…
… mas decaiu um pouco logo de seguida. Mad Detective (2007) está uns quantos furos abaixo do filme anterior. Esta história de um ex-detective que julga poder ver a verdadeira personalidade das pessoas começa devagar, com diversos por menores que nunca são bem explicados ou assimilados pela narrativa, ancorada numa encenação pouco mais do que eficaz. Apenas no seu explosivo final, roubo/homenagem a The Lady From Shanghai (1947) de Orson Welles, assume o seu potencial. A forma de definir as personagens através da personificação da sua personalidade é especialmente bem conseguida nos casos da ex-mulher do detective e do polícia investigado, mas parece que, até ao término, o filme pouco mais tem que esse truque. Felizmente, no fim tudo se transforma numa tragédia, o que acaba por salvar Mad Detective da irrelevância a que, durante uma hora, parece estar condenado.
O grande brinde desta retrospectiva foi, no entanto, Sparrow (2008), última obra de Johnnie To e que, pelo menos à data do festival, não estava comprado para exibição em Portugal. Homenagem assumida a Les Parapluies de Cherbourg (1964), encena, numa cadência vincadamente musical, a ajuda que quatro carteiristas dão a uma 'femme fatale' que se quer livrar do senhor do crime (velho e experiente carteirista) que sempre a sustentou. Bailado fílmico mais do que filme de acção, será lembrado pela sequência na passadeira, momento de confronto entre duas gerações e dois estilos de crime, longos minutos de seguríssima coreografia de qualquer coisa como “a arte de roubar”. Leve como um divertimento mas sério como a maior obra de arte, é talvez, de entre os já vistos, o melhor filme de Johnnie To, aquele onde um estilo pessoal e as componentes lúdica e, sem quaisquer receios, comercial da sua obra melhor coexistem. A estrear, o mais depressa possível.
*****
Fora do ciclo central do certame, destaque também para um Ferrara de muito bom nível. Go Go Tales (2007) pega no tema central e no contexto (decadente clube nocturno nova-iorquino) de The Killing of a Chinese Bookie (John Cassavetes, 1976) e volta a encenar a história da persecução de um sonho visto apenas por uma pessoa e por meia-dúzia de comparsas indefectíveis. Juntando um grupo de actores de grande nível (Willem Dafoe, Asia Argento, Matthew Modine, Bob Hoskins), acentua o lado capriano da revolta e da vontade de sucesso num homem comum e resulta num divertimento sensual, ritmado e perfeitamente integrado na estética nocturna e virtuosa do ítalo-americano.
No meio da qualidade cinematográfica que, a julgar por estes quatro filmes, terá pontuado esta edição do IndieLisboa 2008, pena que o último filme que tive a oportunidade de visionar nesta edição tenha sido o insuportável Charly (Isild LeBesco, 2007) lentíssima e desnecessária história de um jovem fugitivo que encontra numa prostituta azeitola…o quê? Não se percebe muito bem, mesmo depois de uma hora e meia onde uma das personagens onde uma das personagens não diz mais do que “je sais pas” e a personagem-título anda a cirandar pela roulotte onde vive a berrar por tudo e por nada. É um monte de merda, um daqueles filmes que mais não tem que a pose alternativa e “intelectual” ajudada pela câmara digital com que é feito. Se é bom ver filmes feitos com meia dúzia de tostões, outros há que não conseguiriam ser salvos por milhões de dólares. Este é um deles. Paciência.
27 maio 2008
19 maio 2008
18 maio 2008
15 maio 2008
07 maio 2008
06 maio 2008
"Meu caro Domingues, mais simples não consigo. Espero tê-lo ajudado!"
PS - Afinal não está: leiam este pedaço de poesia bem "claquético".
01 maio 2008
Filmes do Mês - Abril
Coeurs de Alain Resnais (9)
I'm not there de Todd Haynes (4,5)
Youth Without Youth de Francis Coppola (Monte de Merda)
Casa
Tropa de Elite de José Padilha (3)
Caro Diario de Nanni Moretti (revisão - 7,5)
IndieLisboa
The Mission de Johnnie To (8)
Mad Detective de Johnnie To (7)
Sparrow de Johnnie To (8)
Go Go Tales de Abel Ferrara (7,5)
Charly de Isild Le Besco (Tão Bom Quanto o Coppola)
22 abril 2008
31 da Armada
Tropa de Elite, vencedor da última edição do Festival de Cinema de Berlim, ainda consegue fazer o espectador focar-se no cinema durante a sua primeira obra. Para que não haja dúvidas: José Padilha é bom cineasta. O seu filme é voraz, e são largos os momentos em que, perante a torrente de imagens poderosas que o assola, o espectador mal tem tempo para respirar. Sobretudo, é uma obra muito inventiva do ponto de vista estrutural, dividindo-se em dois segmentos que se intersectam por diversas vezes e que, por sua vez, se dividem em capítulos mais pequenos. O primeiro segmento mostra os preparativos para uma operação de segurança dos BOPE (a polícia paramilitar que “trata” da segurança das favelas cariocas) aquando de uma visita de João Paulo II em que o Papa resolve ficar hospedado em casa do arcebispo do Rio de Janeiro, junto às favelas. O segundo, o processo de formação de um líder de uma das brigadas da mesma força, quando o narrador do filme começa a ter problemas emocionais com o seu trabalho, até por estar à beira de ser pai e que desemboca numa vingança por um assassinato de um dos membros da Brigada.
Ninguém dúvida da podridão, da violência e da criminalidade (aliás, do banditismo) que grassa nas favelas do Rio de Janeiro. Mas Tropa de Elite não vai no sentido da denúncia (inútil pelo motivo supracitado) nem tão pouco tenta mostrar como é a vida numa favela ou as dificuldades daqueles que de lá tentam sair. Pelo contrário, avança pela glorificação dos supostos super-homens que compõem os BOPE, para quem a violência extrema, a tortura e o sadismo são males menores se comparados com a criminalidade e com o tráfico de droga. O problema é que entre um traficante que prende uma pessoa com pneus, a irriga com gasolina e a ateia e um polícia que ameaça enfiar vassouras em orifícios, que sufoca pessoas com sacos de plástico e assassina traficantes pelas costas depois de dar a um subalterno a ordem de o “botar na conta do Papa”, não parece haver grande diferença. A não ser que se esteja tão podre por dentro quanto parece estar a cabeça de José Padilha.
Eu, por mim, não vou estar atento aos blogues de esquerda. Vou, pelo contrário, ignorar os blogues de direita e os seus orgasmos com a cena em que, numa aula de faculdade, se vê uma discussão onde alguns dos melhores pensadores do século XX (Foucault e Deleuze, por exemplo) são mostrados como tontos. E não vou pensar no Pacheco Pereira a tentar arranjar paralelismos entre isto e um certo “prisioneiro político” que supostamente cá temos. Vou apenas lamentar que um cineasta com talento se perca numa tentativa impossível de distinção entre um criminoso com farda e outro sem vestimenta adequada.
Vai ser o fim da picada: num ano, o quadragésimo aniversário do Maio de 68 – uma espinha na garganta da direita – e a estreia deste Tropa de Elite, futuro filme preferido de muito má gente e por todos os motivos errados. A direita vai cantar vitória e nem a crise em que os mais queques dos partidos dos meninos do Restelo e do eixo Lisboa/Cascais se encontram os vai impedir de cantar vitória. E, no fim de contas, vai tudo estar na mesma. O objectivo, aliás, nunca foi outro.
17 abril 2008
14 abril 2008
Duas pequenas notas sobre duas grandes desilusões - três se contarmos com o Luisão
Youth Without Youth – Este filme está para a obra de Coppola como o atraso do Luisão para o Miguel Pedro está para os grandes centrais que passaram pelo Benfica: não coloca nada do passado em causa, mas custa a acreditar que seja possível. Filme de um cineasta desesperado por lutar contra a sua irrelevância presente, é exibicionista, mal amanhado e completamente escusado. Longe da viagem aos Infernos de Apocalypse Now – o melhor filme americano dos últimos 40 anos? – a confusão narrativa, os momentos penosos como as línguas faladas pelo interesse amoroso de Roth e aqueles horrosos planos invertidos, é um inferno para quem o vê. Aplauda-se o risco – Coppola bem podia viver da carreira passada – mas lamente-se que a entrega de Tim Rothe a classe de Bruno Ganz sejam assim desbaratadas.
10 abril 2008
Decerto mais um pedaço de "double-thinking"
08 abril 2008
Notas da 'teca (4)
Contudo, no final de uma visão de Party Girl, a pergunta que apetece fazer é: estará este filme ao nível de obras como They Live By Night, In a Lonely Place, The Lusty Men, Bitter Victory, Johnny Guitar, etc? No fundo, estará Party Girl no mesmo campeonato dos filmes que compõem o cânone de Nicholas Ray? E aí, sinceramente, a resposta parece ser negativa. Partindo de uma história que mistura vários géneros – o filme de gangsters, o melodrama, o filme de tribunal e o musical, género que, de acordo com a folha da Cinemateca, Ray terá sempre querido experimentar – é irregular nalguma da sua concretização e do seu encadeamento. Se o filme de gangsters – aproveitando a óptima estilização do ambiente da época – e o melodrama são muito bem feitos, não se percebe muito bem a finalidade dos números musicais envolvendo Charisse – se bem que ter Cyd Charisse num filme e não a fazer dançar é como ter Mitchum num filme senão o fazer calmo e estóico -, do mesmo modo que é algo confrangedora a sua representação da Europa aquando da viagem dos dois protagonistas. Mas a sua maior pecha será, no limite, a de não ser uma história de condenação de uma ou duas personagens, sós contra o mundo e a quem este já derrotou ou acabará por derrotar, como é apanágio de grande parte do melhor cinema de Ray.
Muito bem filmado, com uma excelente utilização do Cinemascope, nomeadamente na cena da conversa na ponte entre Charisse e Taylor, Party Girl tem alguns momentos dignos de nota, como o rápido ‘travelling’ para baixo aquando da descoberta do suicídio da colega de quarto de Charisse ou o espancamento de John Ireland com uma escova de cabelo, mas falta algo de tão apelativo, de tão forte, de tão humano e de tão convulsivo quanto nos filmes supracitados. Não é mau; mas é menor.
Filmes do Mês - Março de 2008
No Country for Old Men de Joel e Ethan Coen (8)
Three Times de Hou Hsiao Hsien (8.5)
Le Voyage du Balon Rouge de Hou Hsiao Hsien (6)
There Will Be Blood de P.T. Anderson (9)
Cinemateca
Today we live de Howard Hawks (8)
Party Girl de Nicholas Ray (7)
Casa
Homecoming de Joe Dante (8)
Crimes and Misdemeanours de Woody Allen (10) - revisão
Husbands and Wives de Woody Allen (6) - revisão
An Affair to Remember de Leo McCarey (10) - revisão
Manhunt de Fritz Lang (10)
Vivre sa Vie de Jean-Luc Godard (10) - revisão
07 abril 2008
26 março 2008
23 março 2008
Dois corpos que se encontram - serem dois homens é pormenor
21 março 2008
A gripe (com Woody Allen pelo meio)
Visto-me e, sem querer quebrar compromissos previamente assumidos devido à doença, dirijo-me ao Campo Grande. Dizem-me que o almoço foi mudado para o Colombo depois de quarenta minutos à espera, tentando apertar as golas do casaco para que o vento forte e frio não piore a gripe. Tento começar a ler A Balada da Praia dos Cães numa daquelas edições do Público, baratuchas e descartáveis, mas um nariz progressivamente mais entupido e algumas dores no corpo impedem-me de me concentrar. Finalmente, apanho o 50 em frente à churrasqueira e vou até ao Colombo. Aí aproveito para tirar uma fotografia, em plano de conjunto minado pela minha falta de prática com a câmara do telemóvel, ao Estádio da Luz, futuramente disponível no meu hi5, antes de ir almoçar um Chao-Min de legumes no restaurante de comida rápida chinesa que há no referido centro comercial.
Ao dirigir-me para a mesa, vejo alguns dos responsáveis do meu anterior trabalho, editores de uma secção jornalística. Por muito que nada tenha contra eles especificamente, com quem pouco trabalhei, acabo por lhes atribuir algum do rancor que sinto por um meio que faz não do talento ou da vontade mas da capacidade anímica e financeira para aguentar a exploração inicial o principal factor de continuidade na profissão. Passo o resto do almoço a matutar nisto e, à medida que as dores no corpo aumentam, decido-me a passar pela farmácia do centro para ir buscar medicamentos.
Quando saio do centro, fumo um cigarro – quando estou doente, reduzo o numero de cigarros consumidos, mas nunca paro completamente - e meto no bucho gotas Nasex (as únicas que me desentopem o nariz), um comprimido Mucosolvan (o pior nome de medicamento que conheço) e uma drageia Mebocaína (não fazem grande coisa mas têm um sabor agradável). A minha namorada, antes de embarcar numas merecidas férias de Páscoa na fronteira entre o Alentejo e o Algarve, deixa-me na paragem do autocarro, onde apanho o 767 para o Campo Grande. Ligo ao meu chefe a perguntar se, por motivos de doença, poderia não ir trabalhar hoje e compensar as horas por fazer noutro dia. O meu chefe aceita e, de volta ao Campo Grande, apanho a camioneta 331 de volta a Loures onde, na principal avenida, apanho a 301 que me deixa mesmo à porta de casa.
Em casa, jogo este jogo, coisa que tenho feito uma vez por dia desde que o descobri, janto e saco, ao calhas como costumo fazer, uma cassete do monte. Sai-me a numero 48 onde, entremeadas por Edward Scissorhands (1992), estão duas películas de Woody Allen: Crimes and Misdemeanours (1989) e Husbands and Wives (1992).
Vejo o primeiro e, como das outras duas ou três vezes que o vi, assombro-me com a obra-prima. Escuro, em constantes tons de sépia ou em chiaroscuro (magnifica direcção de fotografia não me lembro de quem, se alguém souber diga), é um pujante filme sobre a vida na ausência de Deus e sobre uma das questões que mais assombram a humanidade desde os seus primórdios: porque acontecem coisas boas a gente má e vice-versa. De seguida, vejo o segundo que, igualmente como das outras visões que lhe dei, me parece ser um dos mais irritantes filmes de Allen. Tão neurótico em termos formais quanto as suas personagens, segue um esquema de falso documentário, e a câmara à mão, depois de uma segunda dose de medicamentos, parece-me enjoativa e equívoca do ponto de vista estético. Há o suposto lado biográfico, apregoado devido à turbulenta separação de Allen e Mia Farrow que ocorreria pouco tempo depois da sua feitura, mas nem isso me faz pensar que não seja um dos Allens mais fracos que vi.
Paro a meio, e mudo o canal da televisão para a Fox Life, cujas séries, com honrosas excepções (a demência de Desperate Housewives e a intriga medico-policial de Crossing Jordan) oferece dramalhões capazes de fazer as telenovelas da TVI parecerem sóbrias. Vejo o final de um episódio da segunda série referida e preparo-me para me deitar. Quando o faço, começa Everwood, um desses dramalhões, cujas vozes e a música têm, nos últimos tempos, tido o condão de me fazer adormecer tranquilamente. Antes, penso no fim-de-semana e em como, quando sair do trabalho, a única coisa de medianamente interessante para fazer será assistir à final da Taça da Liga, onde me parece que o Lumiarense Futebol Clube ganhará, apesar do Setúbal ter sido a melhor equipa da prova. E penso em como, no dia seguinte, já depois de terminada a visão de Husbands and Wives, tenho de escrever um texto sobre este dia no blogue, quanto mais não seja para lhe tentar dar um sentido.
O texto é este. O sentido ainda não apareceu.
17 março 2008
05 março 2008
I won’t go down in History, but I will go down on your sister – Hank Moody, um Bukowski moderno
Uma grande notícia, para todos nós que na nossa infância/juventude sintonizávamos a TVI às sextas-feiras para ver The X-Files: Fox Mulder está definitivamente morto, e o responsável por isso é o escritor Hank Moody, centro nevrálgico desta belíssima Californication.
Série sobre a decadência e a progressiva vontade de redenção, Californication é uma carta de ódio ao estado norte-americano que lhe dá título. Hank Moody, autor que abalou o meio literário norte-americano com os primeiros conto e romances, foi para a Califórnia seduzido, aliás, derrotado pelos milhões que a indústria cinematográfica atira à cara dos romancistas desde que estes estejam disponíveis para destruir as suas criações. Acontece que, habituado ao meio literário e artístico nova-iorquino, nada mais vê na sua nova e solarenga terra que falsidade, corrupção e laxismo. Quando a esposa (Natascha McElhone) o deixa, e leva atrás a filha (Madeleine Martin, a melhor actriz jovem que vi em muito tempo), Moody entra em bloqueio criativo e divide o seu tempo entre cigarros, drogas, álcool, mulheres (a sea of pointless pussy, diz a ex-mulher), álcool, drogas e cigarros, até que decide que é tempo de mudar.
Prodigiosamente bem escrita (ideia e argumento de Tom Kapinos), com noções muito precisas de ritmo e de construção frásicos, Californication é uma chapada no politicamente correcto, uma série que, nos primeiros oito episódios dos doze que compõe a temporada de estreia, vai ao ponto de mostrar actos sexuais entre um quarentão e uma menor de idade, rituais sadomasoquistas entre patrão e secretária e, logo na introdução do primeiro episódio, uma freira como interesse sexual. Enquanto a excelente Sex and the City aproveita o sexo para questionar papéis sociais e sexuais na sociedade americana do presente, Californication foca-se na solidão, na frustração e na incapacidade para, pelo menos momentaneamente, não conseguirmos expor todo o nosso talento. Aproveitando a deixa de Sex and the City, juntamente com Oz (nada coincidentemente, como a primeira também da cadeia por cabo HBO), uma das primeiras séries televisivas onde o palavrão é essencial, é também uma série imensamente realista em termos verbais, onde as pessoas dizem palavrões e se insultam mutuamente, tal como na vida real - o diálogo de Moody com o pai, num dos episódios mais tocantes da série, é exemplificativo de um tratamento das relações que nada tem a ver com o dramalhão contemporâneo e em que, pasme-se!, uma série admite que há relações familiares que nunca resultarão. Por último, há momentos delirantes de comédia escatológica, como Moody a vomitar para cima de um caríssimo exemplar de pop-art.
Para o futuro, uma questão se coloca a Tom Kapinos: valerá a pena fazer uma segunda temporada de Californication, quando, com a excepção do “cliffhanger” do que acontecerá ao novo romance de Moody, tudo o resto parece estar resolvido? Sobretudo, a série perde um pouco em termos de qualidade para o final da temporada, quando a redenção se sobrepõe à decadência, numa tendência que, a continuar, pode prejudicar o produto final. O melhor seria ficarmos por aqui, e lembrarmo-nos de uma das personagens mais explosivas e mais tresloucadas que vimos nos últimos tempos.
Voltamos, então, a David Duchovny, que com apesar do seu ar de “boy next door” se enquadra sempre melhor em bombas ao retardador do que em homens ditos “normais”. Numa carreira que nunca se reencontrou após o sucesso de The X-Files, Hank Moody é a nova bomba relógio, o novo homem em queda e sempre contra o mundo. Não sei se é um renascimento profissional; mas sei que para mim, Fox Mulder morreu. Sem Duchvny, Californication não teria metade da sua humanidade e do seu realismo. Consequentemente, sem Duchovny, Californication não teria metade do seu interesse.
03 março 2008
Filmes do Mês - Fevereiro de 2008
Daqui prá frente de Catarina Ruivo (3)
Sweeney Todd de Tim Burton (8)
Cassandra's Dream de Woody Allen (4.5)
Juno de Jason Reitman (6)
Casa
We own the night de James Gray (8.5)
The Royal Tennenbaums de Wes Anderson - revisão (8)
Á Nous Amours de Maurice Pialat - revisão (9)
Séries
Californication de Tom Kapinos (7.75)
90's
1. Close-up de Abbas Kiarostami
2. Crash de David Cronenberg
3. Magnolia de P.T. Anderson
4. Tudo sobre a minha mãe de Pedro Almodovar
5. O Sabor da Cereja de Abbas Kiarostami
6. Unforgiven de Clint Eastwood
7. Jackie Brown de Quentin Tarantino
8. Goodfellas de Martin Scorsese
9. Pulp Fiction de Quentin Tarantino
10. Ed Wood de Tim Burton